“Já percebeu que, às vezes, não basta apenas escolher as palavras mais precisas, mas também a quantidade exata de verbetes para fazer a descrição ideal? O dilema ao falar de Merival é evitar uma menção de qualidades que, apesar de verdadeiras, não fazem jus à beleza de seu som, ao mesmo tempo que o muito dizer foge da proposta mais simples e orgânica do formato voz e violão escolhido para a maioria das faixas de seu Lovers EP”. Foi assim que André Felipe de Medeiros abriu seu texto para apresentar a jovem canadense Anna Horvath, nome por trás deste belo projeto, e foi também como me senti na hora de escrever esta resenha.
Essa dificuldade é sentida também na hora de enumerar outros artistas que podem ter um som “semelhante”. Nomes como The Staves, Marika Hackman, Lucy Rose, Sharon Van Etten e Laura Marling poderiam facilmente caber aqui como comparações bastante viáveis ao Folk acústico e melancólico da canadense, mas, ao mesmo tempo, é bem possível que citar esses artistas possa ofuscar de alguma forma a música de Merival, seja projetando alguma expectativa ou simplesmente desviando a atenção de suas belas letras e melodias.
Apesar dessa semelhança com tantas com outras moças do Folk, há em Merival um encanto quase instantâneo, uma conexão espontânea com o ouvinte, queira ele já tenha passado pelas situações amorosas descritas nas faixas ou não. Há bastante sinceridade na voz e nas letras de Anna. Há uma identidade que não consegue simplesmente ser copiada de outros – e esse me parece ser na verdade o maior diferencial do projeto.
Formado por apenas cinco músicas, o EP mostra-se bastante orgânico, não só pela instrumentação (apresentando somente voz e vilão em três das cinco faixas), mas também pela entrega das letras se darem de forma bem natural, sem a necessidade de se esconder por trás de arranjos exóticos ou trabalhados demais. Lovers é uma estreia e tanto, ainda que esse não pareça ser seu objetivo. Um ótimo convite para mergulhar na obra dessa jovem cantora.