Resenhas

The High Llamas – Here Come The Rattling Trees

Novo álbum do grupo inglês é também é trilha sonora de peça de teatro

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Ano: 2016
Selo: Drag City
# Faixas: 16
Estilos: Baroque Pop, Pop Alternativo, Trilha Sonora
Duração: 27:17
Nota: 3.5
Produção: Sean O'Hagan

Sabe a modernidade? O tempo corrido? A falta de noção? The High Llamas meio que é uma alternativa sonora a tudo isso. Não que suas canções e álbuns sejam frouxos ou algo assim, pelo contrário: sua música é fruto de sutilíssima observação das pessoas e fatos, devidamente submetidas ao crivo de seu líder, Sean O’Hagan. A ideia dele é encontrar a conexão tempo-espaço entre a música que era feita no início dos anos 1960 (quase tudo, menos o Rock) e entendê-la como algo típico da nossa sociedade ocidental capitalista do século 21. Pode parecer óbvio ou mesmo monótono, mas é altíssima instância musical, creiam. O resultado final é algo próximo de uma Bossa Sempre Nova, meio robótica, meio jazzística, que poderia tocar no sistema de alto-falante do condomínio de Nova Cydonia, em Marte.

Quando não está no futuro idealizado dos anos 1960, a música de The High Llamas está nas pequenas coisas. Este novo trabalho, Here Comes the Rattling Trees, é essencialmente assim, uma vez que é fruto das andanças diárias empreendidas por Sean em sua bicicleta na comunidade onde mora, no sudeste de Londres. Através delas, prestando atenção às pessoas e lugares, ele foi percebendo possibilidades para criar personagens e/ou retratar essa gente de verdade, juntando tudo numa peça, que tem o mesmo nome do álbum. Na verdade, como O’Hagan não tem qualquer afinidade com o universo de ator, a única forma de apresentar a história foi montar uma peça com atores de fato e embutir a performance da banda no próprio espetáculo, montando algo híbrido e interessante. A história é atualíssima, trazendo para o foco a luta de alguns habitantes de uma região da cidade sobre um centro de esportes público ser privatizado e, a partir disso, cobrar ingresso da população mais carente, ainda que, só desse jeito, possa ser modernizado, ganhando melhores condições de funcionamento.

Em menos de meia hora, a banda mistura tonalidades pastéis simples e sutis com sua marca registrada. McKain James, por exemplo, o primeiro single a surgir, é totalmente inserida no melhor da tradição High Llamas de composição e execução, com vocais dobrados, banjos e essa ambientação de futuro do pretérito/Epcot Center, tristemente cancelado pelo neoliberalismo de hoje. Mas há surpresas: a abertura Prelude – A Day In The Square é toda erguida a partir de dedilhados de violão e guitarra, embebidos por fraseados simples de teclados, criando um ambiente belo e acrílico. A faixa-título é belezinha saltitante, com discretíssima psicodelia sessentista adornando a origem bossanovista mais clássica, com andamento cheio de efeitos aqui e ali, ideal para ouvir com fones de ouvido à caça de detalhes. Livorno também é fofa, com mais teclados e guitarras unidos a favor da melodia e do andamento conduzido por violões. Ao longe ouvimos simpáticos fraseados que parecem contrabandeados de algum músico de churrascaria, genialmente colocado como toque contraditório de “excesso contido” ou, se preferirem, “cafona elegante”.

Ainda que este álbum seja bem legal, ficamos na torcida para que Sean O’Hagan e seus amigos retomem a sequência sensacional de discos lançados nos anos 2000, a saber, Beet Maize And Corn (2003), Can Cladders(2007) e Talahomi Way (2010), todos belíssimos, com cordas e instrumental luxuriante, algo que, certamente, seria bem vindo neste novo feixe de canções.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.