Resenhas

Eleanor Friedberger – New View

Terceiro álbum mostra cantora/compositora americana fora da zona de conforto

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Ano: 2016
Selo: French Kiss
# Faixas: 11
Estilos: Rock, Rock Alternativo, Singer-Songwriter
Duração: 45:08
Nota: 3.5
Produção: Clemens Knieper

Antes de mais nada, uma fofoca: Eleanor Friedberger, caso você não saiba, já namorou Alex Kapranos (Franz Ferdinand), sendo docemente homenageada por ele como a personagem central da boa canção Eleanor Put Your Boots On. Ela também namorou Britt Daniel (Spoon), recebendo outra menção honrosa em Anything You Want. Legal, né? Independente de seus dotes como namorada e amante, Eleanor tem uma carreira bem legal, ela também faz parte do grupo The Fiery Furnaces, ao lado do irmão Matthew. Sendo assim, com alta rotatividade musical e afetiva, a moça chega a seu terceiro álbum como artista solo, se equilibrando com graça na fronteira que separa o Rock Alternativo do chamado Classic Rock. Seu maior mérito é nos confundir o tempo todo, deixando sua audiência sem saber para que lado pendem suas canções.

Talvez neste simpático New View, esta balança penda não para independentes ou sistematizados, mas para um tipo simples e bonito de Rock mais lento, contador de histórias, mais cronista do cotidiano. Eleanor deixou seu apartamento no Brooklyn e mudou-se para o interior do estado de Nova York, deixando pra trás a visão da Grande Maçã e abraçando com sinceridade e graça esse novo destino. Daí certamente vem um pouco do clima pastoral que permeia a maioria das canções, além da imagem da solidão, que está em toda parte, lembrando um pouco os álbuns de Fleetwood Mac lá por 1975/77, nos quais as tradições de canção popular americana se encontraram gloriosamente com o Pop vendedor de discos.

Um bom exemplo disso é a bela Never Is A Long Time, sexta faixa de New View, emoldurada por violões e guitarras de origem Folk, que conduzem melodia docemente e acompanham a voz quase sussurrada de Eleanor, numa letra sobre persistência e tenacidade diante das adversidades. Outra canção que parece saída da pena de Stevie Nicks é a bela Cathy, With The Curly Hair, provavelmente a melhor faixa do álbum, com bateria rapidinha, teclados que rodopiam em algum lugar do espectro sonoro, linha de baixo Pós-Punk oitentista e o conto sobre graça e espontaneidade nesses tempos em que as pessoas buscam ser as mesmas.

O que fica evidente por aqui é o talento de compositora que Eleanor exibe ao longo das canções. A belezura plácida que é Two Versions Of Tomorrow, joga a moça na Califórnia desencantada do fim dos anos 1970, quando o cheiro dos incensos hippies haviam se transformado em cocaína, em meio ao avanço do fim dos sonhos sessentistas. De alguma forma, arranjo, letra e vocais descrevem essa transformação, esse Cinema Paradiso portátil que todos temos em nós por outras épocas e mesmas pessoas. Mais acenos pós-hippies estão em Does Torquoise Work?, elegante e contida em sua visão eletro-acústica de vocais dobrados e arranjo simples. Sweetest Girl já tem guitarras mais pronunciadas que emolduram conto sobre endurecer e enfrentar adversidades que a vida vai colocando em nosso colo. O tom de diálogo via carta que surge em Open Season, no qual ela e um correspondente trocam informações sobre amenidades também é belo e simples.

O fecho com A Long Walk, cheia de pianos inconscientes e andamento mais linear, coroa um belo álbum, que mostra uma artista em mutação, em movimento, deixando zona de conforto e falando sobre grandes pequenos temas em sua narrativa, parecendo abraçar, paradoxalmente, uma visão muito mais ampla de vida. Simples e verdadeiro. E bonito.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.