Resenhas

Låpsley – Long Way Home

Estreia da cantora e compositora britânica fica apenas na superfície

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Ano: 2016
Selo: XL
# Faixas: 12
Estilos: Pop Alternativo, Pop Eletrônico, Eletrônico
Duração: 46:28
Nota: 2.5
Produção: Lapsley

Vamos ser francos: nem todos os artistas que a gente resenha por aqui são conhecidos até de nós mesmos, os críticos. Daí a gente vai pesquisar, né? Que remédio… Tal situação se explica, menos por uma eventual desatenção do articulista mas muito mais pela profusão irrefreável de novos e novíssimos nomes, que surgem importantes – ou supostamente – pedindo nossa atenção. Este é o caso da pós-adolescente Holly Låpsley, inglesinha de Liverpool, que, do alto de seus 19 anos, está lançando este primeiro álbum, Long Way Home. Suas declarações para os semanários ingleses – as primeiras que ela faz – são interessantes, mostrando uma mocinha que opta, deliberadamente, por fazer baladas tristes em vez de canções alegrinhas sobre noites nas boates enchendo a cara. Ela avisa ao público: “acho que minha carreira vai sempre falar de coisas tristes”. Tá bom, Låpsley, senta lá.

Vejam, tristeza na música Pop já foi coisa séria mas sabemos que tudo isso é um teatrão midiático em que quase ninguém sente nada a não ser o tilintar dos cifrões nas respectivas contas bancárias. Se muita gente faz esse lucro acontecer cantando e pulando num palco, cantando músicas sobre tudo o que pode haver de mais imediatista e felizão, sem, necessariamente, estar feliz, por que diachos uma menina de 19 não poderia fazer o extremo oposto, ou seja, posar de triste enquanto está tirando uma certa onda sob os holofotes da fama ou quase-fama? Claro que pode, nada errado, ainda mais se houver o capricho com a produção e a composição que Holly exibe aqui. Ela assina suas músicas, a ambiência sonora se dá de forma natural através daquela variação esvoaçante-melancólica de canção executada na beira de um precipício, pensando na redenção emocional definitiva, sobre um assoalho de pianos, teclados e programações eletrônicas. Lapsley tem a noção básica de emissão, canta bem e tem timbre que lembram fortemente Adele. Ouvir doze canções do álbum é uma experiência equivalente a ter fome e comer um Big Mac ou qualquer sanduba equivalente numa lanchonete fast food. Sabemos que não é comida de verdade, mas vai fazer bonito, mais ou menos matar a fome e não vai custar tão caro. Mais tarde, em casa, com calma, comemos algo de verdade.

Este é o pensamento que tentei evitar a todo custo enquanto ouvia suas composições. É legal, mas não é de verdade, pelo menos não parece, ainda que soe bem às vezes. O maior exemplo deste efeito fast food musical está no hit Hurt Me, que tem essa coisa meio Crepúsculo/Jogos Vorazes de drama e sofrimento. É bonitinha, tem percussões legais, algum apuro nos vocais e uso dos teclados, mas é algo que Fiona Apple produziria dormindo. Operator (He Doesn’t Call Me) é mais rapidinha, tem levada quase dançante, com boa performance vocal de Låpsley, mas nada que seja realmente capaz de salvar uma festa ou servir como uma canção memorável para quase nada.

Låpsley tem capacidade para demonstrar certo sofrimento, caso de canções como Love Is Blind e da faixa de abertura, Heartless, mas não é, pelo menos não parece, aquele sofrimento que experimentamos quando parece que tudo e todos se foram do nosso convívio. Aquela coisa que a gente sente quando desejaria sentir qualquer outra vibração emocional, a impressão de que chegamos ao fim de um caminho. Para isso, amigos, há correspondente musical mais apropriado, comida com mais sustância, alimento mais apropriado para a nossa alma. Desconfio que Låpsley ainda seja muito moleca para perceber as nuances desse tipo de sentimento, algo que cinismo ou inconsequência nenhuma é capaz de mascarar.

Por enquanto, prefiro absolvê-la pela imaturidade, compensada por sua música e interpretação. Se ela deixar de lado esta impressão de sofrer confortavelmente, numa pista de dança, ostentado uma taça de champanhe, esperando alguém vir buscá-la e levá-la em segurança pra casa, quem sabe, depois de umas verdadeiras pancadas da vida, possa fazer um álbum realmente verdadeiro? Por enquanto, repito, isso aqui é superficial, meio artificial e alimenta bem pouco. E, com a ingestão/audição reiterada, faz mal.

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BOM PARA QUEM OUVE: Adele, Feist, James Blake
ARTISTA: Lapsley

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.