Resenhas

Baauer – Aa

Disco coloca um ponto final em “Harlem Shake” e abre novas possibilidades ao produtor

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Ano: 2016
Selo: LuckyMe Records
# Faixas: 13
Estilos: Bass Music, Trap, Vaporwave, Eletronica
Duração: 33:00
Nota: 4.0
Produção: Baauer

Pelo grau de conexão virtual no qual nos encontramos atualmente, dizer “Harlem Shake” é autosuficiente para entender que falamos de uma das músicas mais virais de 2013. Já sabemos que Baauer, o produtor responsável, já teve tempo suficiente para provar que pode fazer coisas mais interessantes. No EP SS, por exemplo, constamos que a Bass Music era o caminho certeiro que ele deveria seguir e que o termo “one hit wonder” não se aplicava a Harry Rodrigues.

Provavelmente, o percurso que ele imaginava tenha sido mais rápido do que esperado após as milhões de visualizações no YouTube recebidas no começo de sua carreira. No entanto, talvez tenha sido também o impulso necessário para que Baauer se libertasse de prisões de gênero. Longe do que o formou, o produtor definitivamente deve ter seu nome relacionado estritamente com Trap ou mesmo Bass Music, pois Aa, seu primeiro disco, é a prova de que a música Eletrônica como um todo está sendo abordada em suas produções.

A prova disso são os inúmeros interlúdios presentes no álbum, pequenas vinhetas de pouco mais de um minuto como Good & Bad, Church ou Aa que nos deixam ansiosos pelo seu desenvolvimento antes que acabem de forma efêmera. Seus posicionamento dentro do trabalho são essenciais para trazer os alívios para suas batidas eventualmente frenéticas ou candenciadas. Gogo! seu primeiro single, talvez seja o mais perto que chegamos de Harlem Shake por conta de sua estrutura crescente previsível que antecede um irrestível drop que a coloca entre as melhores faixas de Bass Music no ano. Entretanto, logo pode-se notar que as inspirações vão muito além do modus operanti da EDM atualmente como Body, linda música que explode de forma vagarosa e pede para ser dançada.

Dentro do dinamismo do disco, temos Vaporwave em Pinku – guitarras sampleadas em uma estrutura mais “quadrada” e vozes japonesas de fundo mostram que ele está atento às tendências musicais na atualidade. Sow, ótima faixa com sample de voz do clássico do Funk Carioca Jonathan da Nova Geração, acaba por descontruir totalmente a canção sampleada ao trazer uma roupagem de Future Beats com batidas mínimas dos primordios do Dubstep e mostra que sua passagem pelo Brasil lhe abriu a cabeça. O curioso de Aa é que o albúm permite a Baauer transitar por diferentes gêneros antes de entregar verdadeiros hits com partipações especiais comecem a ser entregues.

Com exceção de M.I.A. em Temples- faixa que poderia ter saído de um disco da cantora, mas que não foge muito do que ela poderia entregar normalmente – todas as músicas são realmente surpreendentes. Kung Fu com Pusha T e Future é certeiro no Hip Hop melódico de nomes como Young Thug e tem tudo para ser um dos singles de sucesso desse disco. Make It Bang é um House dançante com TT The Artist e traz mais um drop para as pistas na carreira de Baauer, enquanto Day Ones é a faixa mais colérica de sua discografia. Com uma pegada semelhante a Prodigy nos anos 1990, a música tem versos nervosos dos rappers Novelist e Leikeli47 que nos fazem até esquecer as suas batidas.

Se o primeiro hit de sua carrreira poderia ter “viciado” Baauer em uma estrutura musical certeira, o produtor foi suficientemente inteligente para entender que, da mesma forma que um vídeo se torna efêmero na atualidade, um gênero musical também se torna. Pensando dessa forma, Harry soube construir um caminho longo e eficiente para chegar em Aa, o seu verdadeiro cartão de visitas. Plural do Hip Hop ao Vaporwave, o trabalho é entregue como um montanha russa completa – tem seus momentos êxtase, ansiedade e alívio, todos com uma mesma identidade sonora em um experimento que poderia ser mal sucedido pelo excesso de referências, mas que abre portas e coloca um ponto final em Harlem Shake.

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BOM PARA QUEM OUVE: Redinho, Sants, Grimes
ARTISTA: Baauer

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.