Resenhas

Flatbush Zombies – 3001: A Laced Odyssey

Trio nova-iorquino deixou um pouco da ousadia de lado e se preocupou em construir um clima para seu disco de estreia

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Ano: 2016
Selo: Glorious Dead Recordings
# Faixas: 12
Estilos: Hip Hop, Rap
Duração: 60:51
Nota: 4.0
Produção: Erick "The Architect" Elliott

Nenhum estilo hoje dialoga de forma tão natural com passado e futuro quanto o Hip Hop. O grupo nova-iorquino do Brooklyn Flatbush Zombies, em 3001: A Laced Odyssey, seu primeiro álbum, aponta novas abordagens para este diálogo, mantendo boa parte da ousadia e personalidade que os destacaram localmente, mas resultando em um som que resgata o Hip Hop da Nova York dos anos 90.

A produção das faixas do trio, responsabilidade de Erick “The Architect” Elliott, emula sons urbanos – sirenes estão presentes em várias faixas – que dão às músicas do grupo aquele clima de filme policial do fim do século passado. Aqui, as batidas dificilmente buscam o protagonismo e com instrumentação sempre leve e pouco agressiva, servem de embalo para seus versos ora provocativos e ora engraçados.

Esse humor do grupo acaba ficando mais aparente quando Meechy Darko assume o controle com sua voz bizarra e agressiva, mas também está presente quando Zombie Juice entra versando com sua voz esganiçada de forma tão rápida que fica difícil entender o que está falando. Essa diferenciação entre cada um dos membros do grupo é uma de suas principais características, já que cada um colabora de forma autêntica e particular para todas as faixas que fica difícil imaginá-los funcionando isoladamente.

Bounce, trabalhada como principal single do disco, propositalmente demonstra bem a proposta do trabalho todo. É uma faixa linear, sem picos de emoção, com versos em ritmo constante e uma atmosfera contida, bela e até de certa forma elegante. Mas isso está longe de demonstrar monotonia. Na camada mais distante do som está uma produção etérea, com seus elementos meio abafados, como se estivessem sendo tocados dentro de um copo. Na segunda camada, está uma guitarra livre e criativa, que parece entrar e sair da faixa quando bem entende e deixa tudo mais interessante. Mas o destaque obviamente fica para os versos, aqui divididos entre os três integrantes, cada um trazendo seu estilo e personalidade em sua forma de escrever e cantar.

Variações deste estilo do grupo estão espalhadas pelo restante do álbum. The Odissey e Your Favorite Rap Song – que abrem e fecham o disco respectivamente – trazem um caráter épico ao trabalho. Ascension traz agressividade, A Spike Lee Joint – com um saxofone que quase rouba a cena – e Smoke Break desaceleram tudo e incorporam mais sensualidade, mais groove e R.I.P.C.D. – “homenagem” sincera e bem feita ao moribundo formato de reprodução – e Trade Off provam que o grupo sabe fazer refrões potentes e pegajosos.

Esses, inclusive, são os momentos que deixam mais clara a tentativa de Flatbush Zombies de ficar mais próximo de seus ídolos do que da produção atual. Enquanto o R&B e o Pop tem conquistado seu lugar nos refrões do Hip Hop, trazendo o auge emocional das faixas, o grupo nova-iorquino – um pouco por opção e um pouco por se tratar de uma produção independente e não ter as mesmas condições de Kanye West ou Drake para trazer participações de peso em suas faixas – utiliza versos precisos e ficam dentro do Rap na hora de criar seus refrões.

3001: A Laced Odyssey não é o disco ousado e marcante que muitos previam a partir dos primeiros lançamentos do grupo. Em seu primeiro álbum, optaram por um caminho menos excêntrico, mas que resultou em faixas mais relaxadas, agradáveis de ouvir, e que criam uma vibe que talvez represente mais a mensagem do grupo do qualquer invenção.

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MARCADORES: Hip Hop, Rap

Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.