Cuscobayo é uma dessas bandas que oferecem ao ouvinte um convite a um estado de espírito muito bem definido – no caso, a paz utópica de um belo convívio em sociedade (porque falar disso no Brasil é sim uma grande utopia). O mais interessante é como suas músicas transportam o público a um lugar imaginário sendo feito justamente de uma maneira orgânica, de pés (descalços) no chão.
Há uma grande união de significados e de forma nas dez faixas que compõem o disco Cuscobayo, seu primeiro álbum, feito por financiamento coletivo. Elas vem todas na mesma estética de base no violão e os coadjuvantes cajon e baixo, com alguns metais recheando o som pontualmente nos que vieram a ser os melhores momentos da obra (ouça Marasmo Barato e perceba). São as vozes, contudo, que parecem direcionar todo o trabalho da banda.
São os vocais sempre plurais, coletivo, que ajudam a entender a natureza da banda – assim como no conteúdo social e político de suas músicas, o fator mais importante é a dinâmica entre as pessoas. É possível visualizar em cada faixa uma reunião de músicos que agruparia os ouvintes como parte integral da apresentação ao acompanhar o vocal – e ouvir Cuscobayo tem isso de dar vontade de experimentar o disco ao vivo.
Isso acontece também porque, por mais que a produção esteja caprichada, com boas escolhas nos timbres e em seus volumes, acaba sendo um daqueles álbuns que você precisa estar muito na vibe para querer ouvir. Talvez pelo âmbito quase apelativo de deixar o ouvinte em um estado feliz/contemplativo o tempo todo, ou pelos vocais principais se assemelharem demais à tradição do Pop Rock brasileiro – ou quando essas duas coisas são simultâneas, como em O Tempo que Resta -, parece que falta algum carisma ou originalidade que faria Cuscobayo ser chamada automaticamnte de “favorita” por uma multidão.
A beleza, porém, vem em boa forma em diversos momentos do disco e sua audição será sempre bem aproveitada. Ouça e queira ver ao vivo também.