Resenhas

Starwalker – Starwalker

Disco de estreia esbarra em grandes apegos com sonoridades de outros projetos

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Ano: 2016
Selo: Prototyp Records
# Faixas: 10
Estilos: French Pop, Synthwave, Indie Pop
Duração: 46:21
Nota: 3.0
Produção: Bardi Jóhannsson

Air é um dos nomes franceses mais ambiciosos do século 21. Revitalizando e reformando um som de alta fidelidade, a discografia do duo tem uma qualidade constante invejável, passando pela sinestesia sonora de seus aclamados clássicos contemporâneos Moon Safari (1998) e Talkie Walkie (2004), até chegar a registros mais tímidos, porém não menos importantes, como Le voyage dans la lune (2012). Todos são exemplos fascinantes de uma engenharia de som precisa que busca, por meio da simplicidade e da redução ao necessário, evidenciar uma identidade sonora bem construída.

Liderado por essas ambições, um dos integrantes do duo, Jean-Benoît Dunckel decidiu ampliar suas opções de perspectivas, montando em seu meio tempo o que agora é conhecido pelo nome de Starwalker, uma parceria com o produtor e compositor islandês Bardi Jóhannsson. Com um EP lançado em 2014, o projeto lidou com uma comparação monstruosa para com a sonoridade de Air, o que é de fato natural, mas poderia ter sido discutido em menor escala. Hoje, com o lançamento de seu disco de estreia, vemos que tal preocupação era extremamente condizente com o que viria por aí.

Starwalker fará o ouvinte lembrar, inevitavelmente, de Air. Principalmente pela forma como as músicas são construídas: delicadas e explorando todos os limites e timbres da música Hi-FI. Além disso, o conhecido timbre de voz suave do vocalista faz essa comparação ficar ainda mais automática. O que pode ser lido como uma espécie de autorreferência acaba às vezes atrapalhando na hora de criarmos nossa relação e percepção da sonoridade específica de Starwalker e tecer estes tipos de comentários tende a chamar a atenção mais para os formadores do projeto do que a banda em si. Parece que estamos ouvindo algumas sobras de estúdio de Air e, mesmo que o duo francês nunca tivesse existido, as canções possuem uma homogeneidade duvidosa, gerando tanto uma carga de unidade conceitual quanto uma falta de altos e baixos na hora de apreciar o disco como um todo.

De qualquer forma, essas comparações não fazem deste um álbum descartável. Faixas como a excelente e sensorial Demeter, a balada espacial Losers Can Win e a minimalista Get Me podem instigar um ouvinte conhecido de Air a dar uma chance a Starwalker, bem como despertar a curiosidade de alguém que sequer tenha ouvido falar tanto do duo francês quanto da banda em questão. O que talvez não tenha sido a melhor escolha foi ter se apegado a tantos elementos do passado, tornando bem mais complicado e árduo o processo de desapego emocional destas sonoridades intensamente usadas. O exemplo mais claro fica por conta das vozes sintetizadas por meio de um Micro Korg, quase uma marca registrada de Air.

No fim das contas temos um trabalho bom, mas que vive à sombra de seus ancestrais, encontrando bastante dificuldade para voar sozinho. Pode ser que ele funcione para diferente tipos de ouvintes, mas ainda ficam alguns pensamentos de como teria sido tudo se as coisas tivesse rumado para um caminho mais independente e menos conhecido. Só o futuro dirá o que está reservado para os caminhantes das estrelas.

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique