A Psicodelia verdadeira não combina com os grandes centros urbanos e Muddy Brothers sabe disso. Naturais de Vila Velha, os rapazes do conjunto perceberam que, para obter um registro totalmente psicodélico e transcendental, eles deveriam se isolar em um retiro onde a música viria totalmente desprendida de preocupações terrenas. Além disso, com um passado repleto de composições mais pessoais, o grupo enxergou novos caminhos por meio de letras com temáticas mais exteriores, sendo o ocultismo e o satanismo temas recorrentes pelas onze faixas de Facing The Sky (Backwards), um registro que tem muito a mostrar.
É curioso o título do disco em questão. Olhar o céu de ponta cabeça talvez seja exatamente o que o ouvinte pode sentir quando se deparar com esta psicodelia clássica dos anos 1970 revista sob a ótica brasileira. Estamos diante de referências muito claras de músicas do passado, mas elas parecem apenas ser um verniz final por cima de uma camada bem sólida de porrada Rock. É claro que há algum espaço para instrumentos eletrônicos, mas o grande destaque fica pela força que o trinômio bateria-guitarra-baixo causa ao mostrar riffs potentes e envolventes, como nas faixas Stars Weren’t Meant To Be Young e Dancing In The Light. Diferentemente do que o grupo australiano Wolfmother fez nos últimos registros, Muddy Brothers não faz as suas composições serem reféns das suas referências e, por vezes, vemos uma banda preocupada em entregar mais do que um disco cheio de fórmulas pré-definidas e repetitivas.
A década de 70, mas precisamente o campo dos power-trios, é o terreno fértil em que a banda resolveu semear o disco, mas isso não significa que não houver espaço para outros nomes contribuírem para o caldeirão de psicodelia tupiniquim de Muddy Brothers. Há momentos que é possível sentir uma presença quase que sobrenatural do rei lagardo Jim Morrison, principalmente durante a execução da faixa Ocean Streams. Outro nome possível de identificar é Black Sabbath e seu proto-Heavy Metal extremamente imediato de identificar. Pode ser um trabalho limitado pela década a que se refere, mas isto implica em diferentes tipos de humores e ambientes, fazendo de Facing The Sky (Backwards), um disco bastante versátil e instigante. Extremamente indicado para fãs de Rock Psicodelico que querem sair do eixo Tame Impala-Boogarins de lisergia.
Pesado, sensorial e diverso.
