Resenhas

ANOHNI – Hopelessness

Sob nova identidade e gênero, artista dá outro tom aos seus dramas pessoais e globais

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Ano: 2016
Selo: Rough Trade
# Faixas: 11
Estilos: Pop Alternativo, Eletrônica
Nota: 4.5
Produção: Oneotrix Point Never e Hudson Mohawke

O trabalho de Antony and the Johnsons sempre possuiu uma melancolia drasticamente acentuada, como um momento de catarse em um longo desabafo ou sessão de análise, o confronto dos temas mais íntimos em uma projeção que o ouvinte poderia fazer em seu subjetivo de um momento seguinte mais leve, como a abertura para uma fase mais feliz em sua vida. Não é o caso em Hopelessness, primeiro trabalho de Antony Hegarty após assumir nova identidade e gênero como ANOHNI.

O título não poderia ser mais apropriado para uma obra de grande agressividade temática que encontra nas referências da música Eletrônica não sua cumplicidade emocional, mas o alívio narrativo que o ouvinte precisa para aguentar o peso de sua mensagem.

Não que os arranjos – sob a produção de Oneohtrix Point Never e Hudson Mohawke – sejam incapazes de acompanhar o teor emocional das letras e interpretação da artista, e qualquer audição, mesmo com pouca atenção, a faixas como I Don’t Love You, Why Did You Seperate Me From the Earth ou o single Drone Bomb Me revelam como tudo conspira a favor de uma grande coesão. Entretanto, há inegavelmente um clima de maior tolerância do ouvinte comum do que a obra teria se fosse, por exemplo, revelada em apenas voz e piano.

O frescor da Eletrônica parece ter essa função, ser um contraponto artificial para a humanidade de ANOHNI enquanto ela canta em um elástico temático suas perspectivas em primeira pessoa dentro de um contexto global, contraindo-se no si (a vontade de morrer, o arrependimento, o abandono) e expandindo-se àquilo que é mundial (política, economia, preconceito).

Hopelessness é um “Neo-Barroco” no contexto em que é lançado, um disco de uma densidade que desenrola-se a partir da boa vontade do ouvinte por meio ao teor Pop do instrumental. Nas entrelinhas, ficam o desânimo e o desespero de sentir-se preso a um mundo do qual não se faz parte e a fidelidade involuntária à sua natureza como alienígena. Forte e denso como esperado, belo e carismático de maneira imprevisível – um grande álbum.

(Hopelessness em uma faixa: 4 Degrees)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.