Resenhas

Jeremiah Jae – Raw Money Raps

Disco de Rap contemporâneo tem os pés no eletrônico e marca a estreia do artista sob o selo de Flying Lotus

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Ano: 2012
Selo: Brainfeeder
# Faixas: 20
Estilos: Rap, Hip-Hop, Eletrônica
Duração: 51:42
Nota: 3.0
Produção: Jeremiah Jae

À medida que a música Eletrônica se torna cada vez mais presente no processo criativo de diversos estilos musicais, como o Rock, Pop, e Rap, podemos perceber como algumas características vão sendo moldadas e diferentes vertentes vão sendo criadas dentro dos próprios estilos. Jeremiah Jae é uma prova viva disso, e o título da sua obra denuncia um pouco essa nova vertente do Rap: Raw Money Raps – “Raps crus sobre dinheiro” em uma tradução livre.

Dinheiro é um tema recorrente dentro do Rap e Hip-Hop, não sendo novidade pra ninguém. Entretanto, o que vemos em Jae não são os clichês básicos dos estilos, mas sim uma pegada muito mais eletrônica e que, em alguns momentos, a própria rima e os versos são deixados em segundo plano para justamente as batidas serem melhor exploradas e criadas. Temos aqui batidas quebradas, baixos altíssimos, um toque mais noturno nas composições e, por que não, mais pesado.

Os dedos na produção são do próprio rapper, mas logo vemos uma clara semelhança com o estilo e construção de batidas feito por Flying Lotus. Nada mais normal, dado que o selo de seu disco pertence ao sensacional produtor que deu as caras no Sónar SP desse ano. Em um disco com 20 faixas, algo improvável no Indie mas totalmente comum e plausível no Rap, a consistência é deixada de lado dentro da obra inteira, com alguns momentos de altíssimo nível e notáveis, e outros nem tanto assim.

Gun Go Off mostra o toque noturno que conduzirá todo álbum, e poucos discos como esse variam tanto quando escutados em diferentes momentos do dia. Greetings dá as boas-vindas aos ouvintes com versos e rimas precisos, uma batida jazz acelerada e a participação de Tre. Leaders demonstra as quebras de batidas, ritmo mais lento e pesado, lembrando muito Flying Lotus, e com as rimas sendo deixados quase de lado para que Jeremiah proclame a sua fala.

Em Cat Fight, um sample funkeado, misturado a uma voz feminina em loop e o estilo peculiar de Jae cantar proporcionam um dos melhores momentos do álbum. Seasons é confusa e, se não fosse pelos versos do rapper, poderíamos muito bem achar que é uma música do Burial, pai do Dubstep. False Eyes transmite o olhar de alguém que se vê diante de uma pessoa mentirosa. Quase desiluidido e acabado, Jae diz que tentou fugir, mas os olhos falsos continuam olhando pra ele.

É quando Jeremiah aborda o dinheiro que ele alcança os melhores momentos. Em Money, temos uma batida etérea na guitarra, com poucos acordes, levando o ouvinte a uma percepção com menos ostentação sobre o tema e mais viagem. O clipe foi dirigido pelo Flying Lotus e merece ser conferido. Money And Food é o momento mais Pop e ensolarado, dentro de um disco cru que não se preocupa com as rádios. Entretanto, quando se exercita dentro de timbres e batidas mais leves, Jae se sobressai e entrega uma canção que deliciará qualquer fã de Frank Ocean, por exemplo.

Alguns momentos, porém, cansam quando escutados na extensão do disco e, mesmo pontualmente, valem mais pela produção e batidas do que pelas rimas. Vemos isso em canções pesadas, como Wires, Seasons e Tourists. Outros exercícios criativos, como a pseudo-Bossa Nova The Great Escape, o diálogo Guerrilla ou a viajada One Herb, são indiferentes dentro da obra e continuam reverenciando mais a capacidade de produção do que a rima de Jae.

Em sua estreia no selo Brainfeeder de Flying Lotus, Jeremiah não decepciona os fãs do produtor e pode ser considerado, assim como o seu companheiro, um artista extremamente contemporâneo. Uma nova cara do Rap vendo sendo criada junto a outros artistas, como Shabazz Palaces e o gigantesco grupo OFWGKTA de Tyler, The Creator, com batidas mais densas, quebradas e jeito de cantar e rimar que fogem muito do mainstream do estilo. Incorporando ideias, experimentações e inspirações do século XXI, este “novo Rap” tem tudo para abocanhar uma série de ouvintes de outros ritmos que se encontram nessa intersecção.

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BOM PARA QUEM OUVE: Frank Ocean, Flying Lotus, Burial
ARTISTA: Jeremiah Jae
MARCADORES: Eletrônica, Hip Hop, Rap

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.