Resenhas

Phoria – Volition

Timbres e elementos eletrônicos que conhecemos bem em função da sensibilidade

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Ano: 2016
Selo: X Novo Records
# Faixas: 11
Estilos: Indie, Indie Eletrônico
Duração: 49'
Nota: 4.5

Foi Ezra Pound quem classificou artistas em diferentes categorias, um artifício que o crítico cultural recorre quando precisa estabelecer comparações para a infame tarefa de julgar um trabalho. Para entender o que Phoria fez em Volition, fui obrigado a me debruçar mais uma vez sobre as classificações de Pound (vale a pena ler sobre isso) para entender melhor como comunicar o trabalho ao público do Monkeybuzz, mas sem tanto sucesso.

Enquanto ouvia o disco, parecia que ele me fazia cada vez mais sentido à medida em que eu desistia de compreendê-lo de uma forma mais convencional e me deixasse ser apenas envolvido com o que era apresentado diante de meus ouvidos. Até pesquisa evitei fazer, me bastaram as informações de que trata-se de uma banda (porque precisava saber se era uma só pessoa ou um conjunto) da Inglaterra e que Volition é seu álbum de estreia.

É muito interessante o que é construído aqui. A primeira faixa, Melatonin, parece não vir para ditar o ritmo do disco, mas para convidar o ouvinte a seguir em frente rumo à décima primeira música, uma experiência muito mais fora do comum do que a introdução revela. A sequência seguinte (Red, Everything Beta e Mass) baixam a respiração do receptor e evoca traços de conterrâneos, como Alt-J e James Blake, em um trabalho de sensibilidade em clima semelhante ao que Kyson fez recentemente em A Book of Flying.

A segunda e a terceira parte do álbum seguem brincando com timbres sussurrantes, batidas esparças e uma combinação perfeita entre bom gosto nas escolhas dos instrumentos e uma melancolia latente do tipo que fala mais alto em seu silêncio. Loss, a grande joia da obra, atinge isso com – sinceramente – perfeição ao criar um refrão instrumental composto principalmente por instrumentos de cordas por cima de abafadas e graves batidas.

Nunca há a sensação de que Phoria está tentando reinventar a roda, ou diluir algum conceito de seus predecessores como uma maneira de ou atrair popularidade, ou produzir um sentimentalismo piegas e forçado no ouvinte. Pelo contrário, a banda parece trabalhar magistralmente os elementos (sejam eles claramente vindos da Eletrônica ou do Indie) que servem de inspiração para criar anti-hits, como Evolve ou a própria Loss, em função de algo maior, que é a coesão que tece as músicas dentro do disco.

Há muito o que se pensar sobre Volition e muito a se considerar sobre Phoria (sendo o maior questionamento como essas músicas funcionam ao vivo), mas um trabalho que consegue realizar a sequência Emanate (algo que Moby adoraria ter feito) e Saving Us a Riot (com inspirações desse Folk atemporal que nunca falha) com tanta coerência e coesao merece ser levado muito a sério. Mais que isso, uma obra que constrói tão bem um aspecto emocional a partir de sonoridades tão frias sem ser apelativa merece estar entre suas favoritas.

(Volition em uma faixa: Loss)

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BOM PARA QUEM OUVE: Kyson, Alt-J, James Blake
ARTISTA: Phoria

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.