Resenhas

maquinas – Lado Turvo, Lugares Inquietos

Disco emoldura letras melancólicas em uma ótima mistura entre Post-Rock e Noise

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Ano: 2016
Selo: Bichano Records / Transtorninho Records
# Faixas: 6
Estilos: Rock Alternativo, Post-Rock, Noise Rock
Duração: 50'
Nota: 3.5
Produção: maquinas e Igor Miná

Se é difícil imaginar um disco (ainda mais um de estreia) com apenas seis faixas, pense que as músicas de Lado Turvo, Lugares Inquietos tem na média quase dez minutos de duração. E se você acha difícil mostrar toda a amplitude sonora do primeiro registro de uma banda somente com meia dúzia de singles, saiba que o álbum do grupo fortalezense maquinas (assim mesmo, sem o acento) é bastante completo. Um prato cheio para quem curte Noise Rock ou Post-Rock com vocais em português.

O grupo vem já há algum tempo se lançando como um nome interessante na cena nordestina e conseguiu no ano passado com o single Zolpidem, que aparece também neste álbum, alcançar certa visibilidade para além de seu Estado de origem. De junho de 2015 até este lançamento, a faixa mal-agradecido (também no repertório do disco) ajudou a pavimentar o caminho para a chegada desta ambiciosa estreia.

quarto mundo inaugura o registro com sua guitarra melancólica e um clima pesaroso, dando o tom do que está por vir nas próximas cinco músicas. Dona de uma melodia chorosa e vocal arrastado, a música tem um tom bastante introspectivo, como se toda a letra da canção se passasse dentro da cabeça de quem planeja dizer tudo isso, mas não tem coragem.

O grupo prossegue nesse clima inebriante com mal-agradecido, música que se arrasta em um spoken world munido de muito da sensibilidade de bandas Emo. A conhecida Zolipem vem na sequência e, ao contrário do efeito letárgico causado pelo medicamento que dá nome à faixa, revela uma ferocidade inesperada, um esbravejar que amplia o escopo de sentimentos despertados ao ouvir a obra.

O tom ébrio toma conta mais uma vez em contramão, outro spoken world que, dessa vez, narra uma história de embriaguez. Letra e fundo musical são fundidos de forma a emular uma ressaca daquelas que o simples fato de olhar para a luz faz sua cabeça revirar e a tontura da bebedeira voltar. A rancorosa drive by volta a apresentar um lado mais raivoso da música do quarteto. São quase doze minutos de guitarras mais encorpadas, que por toda sua extensão fluem para diferentes ambientes, passando por mantras de melodia até chegar a um flerte com o Dub.

heitor encerra os 50 minutos de obra com sua leveza agridoce, que esconde em sussurros um pesar e uma introspecção ainda não vista até aqui. É o querer estar por cima depois de o fim de um relacionamento dizendo “hoje eu me parabenizei por conseguir não pensar nenhuma vez em você “. Uma derrota que fecha o disco em um tom cinzento bastante letárgico, como um depois de se engolir um ou dois comprimidos de zolpidem.

(Lado Turvo, Lugares Inquietos em uma faixa: Zolpidem)

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BOM PARA QUEM OUVE: El Toro Fuerte, Raça, Ombu
ARTISTA: maquinas

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts