Resenhas

Ladyhawke – Wild Thing

Terceiro álbum da cantora neozelandesa é fluente no idioma do Pop mais clássico

Loading

Ano: 2016
Selo: Polyvinyl Records
# Faixas: 11
Estilos: Pop Alternativo, Pop Eletrônico, Classic Pop
Duração: 37:43
Nota: 3.5
Produção: Scott Hoffman

Diretamente da Nova Zelândia chega Phillipa “Pip” Brown, a Ladyhawke propriamente dita. Sua vereda é a do Pop para consumo de hipotéticas massas, que teriam um gosto musical muito mais apurado do que as que realmente existem hoje. A música que Pip oferece ao ouvinte é rica, cheia de nuances e calcada no Tecnopop oitentista mais clássico, aquele que servia como prova inconteste de que um artista estava “antenado com a modernidade” naqueles tempos idos. Vocês sabem, o articulista vivenciou esta época, detectando tal sonoridade em gente tão distinta quanto Kim Carnes e sua indefectível Bette Davis’ Eyes, de 1981; na tristonha I Like Chopin, do cantor italiano Gazebo, de 1983 ou no sucessinho The Promise, do obscuro trio inglês “one hit wonder” When In Rome, que tomou as rádios de assalto já em 1989/90. Estes três artistas, todos eminemente Pop, com carreiras distintas e pouco consistentes, apenas mostram como é amplo o escopo que Ladyhawke propõe visitar neste bom Wild Things.

Este é o terceiro disco da carreira de Pip Brown. Nos anteriores, ela ainda buscava encontrar certa identidade na área do Pop mais alternativo/cabeça, sem muito sucesso. Aos poucos percebeu que seu talento se configurava muito mais atraente neste modelo acrílico/dançante de canção, com tons épicos nos momentos certos, com apelo dançante noutras horas. Há algo de clássico-farofa na música de Ladyhawke, até estranho para uma artista com informações musicais adquiridas na Oceania. Suas mirabolâncias melódicas caberiam mais numa cantora sueca ou alemã, povos que nascem e vivem em contato estreito com a musicalidade mais clássica, mas tudo bem. O que surge como resultado é uma forma de Pop mais clássico que o normal, mas que é capaz de guardar alguma urgência na abordagem, alguma sujeira na produção, impedindo que as canções sejam muito limpinhas. Funciona melhor assim.

Em termos estruturais, Wild Things lembra o último álbum da dupla canadense Tegan And Sara, Love You To Death, no qual as moças imprimem uma noção acachapante de bom Pop, em que a melodia e o respeito pela canção são as marcas registradas. Pip não é tão boa compositora quanto as meninas, mas ela compensa esta carência com uma boa dose de conhecimento deste tipo específico de Pop tecnológico oitentista, soando naturalmente inserida no contexto dos anos 1980, sem parecer nostálgica. Dá pra encontrar várias pepitas douradas entre as 11 canções do disco. Sweet Fascination, por exemplo, é cheia de teclados e sintetizadores que assumem todas as funções do arranjo, que ostenta uma simpática bateria eletrônica sem muita variação, servindo de alicerce para várias linhas melódicas em paralelo. Tudo bem feito e legal. A faixa título tem introdução lenta e climática, desaguando numa bela canção em midtempo, com boa performance de Pip. Aliás, é justo dizer que a moça tem bons dotes vocais e os explora com bom senso e noção de colocação.

O panorama muda em Let It Roll, que nada tem de revisionista ou clássica, pelo contrário. Percussão e bateria são as estrelas aqui, com um ritmo mais rápido e claustrofóbico, capaz de fazer bonito em pistas de dança com mente aberta. Chills é justamente o contrário: é Pop frequentador de parada de sucessos nos anos 1980, caberia bem no segundo álbum da Cyndi Lauper, True Colors, elogio que garanto que Pip gostaria de ouvir. Golden Girl já é mais sapeca, cheia de sintetizadores coloridos e divertidos, típica canção festeira para animar azamiga. Money To Burn também foge um pouco da tônica oitentista reinante e vai flertar com uma linha de sintetizador/bateria mais rapidinha, enriquecida com vocais fofos e tecladinhos que surgem saltitantes no refrão. Wonderland surge noturna e sexy, apontando para o fim do álbum, que chega com Dangerous, mais uma clássica canção estruturada com bateria intencionalmente robótica e sintetizadores em compasso de espera, que explodem no refrão.

Ladyhawke se equilibra bem entre a revisita e a nostalgia, soando moderninha e oportuna ainda assim. Tudo é bem feito no álbum, as composições funcionam, mostram diferentes facetas da moça e o clima Pop deslavado facilita tudo, ainda mais com a classe das canções. Outro bom trabalho privilegiando a melodia e um formato que respeita a música acima de tudo.

(Wild Thing em uma faixa: Money To Burn)

Loading

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.