Resenhas

Jake Bugg – On My One

Cantor inglês tenta transição em novo álbum e se dá mal

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Ano: 2016
Selo: EMI
# Faixas: 11
Estilos: Rock Alternativo, Pop Alternativo, Folk Alternativo
Duração: 31:27
Nota: 2.5
Produção: Jacknife Lee

Sabe aquele moleque inglês, o Jake Bugg? Aquele que surgiu há alguns anos com um violão acústico, tocando canções Folk como se fosse um Bob Dylan com sotaque de Nottingham, incensado pela imprensa musical mundial e pelas fãs pré-púberes como a nova sensação do estilo? Alguém deveria avisá-lo que há algum espertalhão por aí, usando seu nome, lançando este novo álbum, On My One. A julgar pelos arranjos, pela pegada, pelo próprio clima do disco, este não é Jake. Ou melhor, talvez seja o que ele acha que deve ser para continuar com sua carreira musical em um nível aceitável de relevância.

Sim, pessoal. Este é mais um daqueles “discos de transição”, no qual o artista procura dar uma repaginada em sua obra, juntar novas influências, partir pra outra. No caso de Jake, cujos dois trabalhos anteriores foram produzidos por Rick Rubin, um cara com relevância e conhecimento de causa em termos de discos enxutos e com viés Folk/Rock, Jake escolheu Jacknife Lee, um cara igualmente versado no idioma Pop Rock para as multidões planetárias, responsável por trabalhos de gente como U2 e Kings Of Leon, entre vários outros artistas de grande porte. Em suas mãos a tarefa de conferir maturidade e nova roupagem à música de Bugg, algo que, convenhamos, aos 22 anos incompletos, nem ele é capaz de dizer. Lee fez o que sabe fazer: poliu a sonoridade, eliminou as canções acústicas da maior parte do álbum e enfiou alguns exemplares constrangedores de arranjos dançantes, Hip Hop e baladeiros em vários momentos. Veja, não há nada errado em mudar, sobretudo quando você ainda é um jovem e tem muito caminho pela frente, mas é evidente a manobra mercadológica por trás do conceito de On My One e isso é irritante.

Vejamos os acertos em primeiro lugar. A faixa-título, que abre o disco, é uma canção quase autobiográfica, com Jake dizendo que é um rapaz pobre de Nottingham, que tinha um sonho e que, neste mundo cruel, após dois álbuns e 400 shows, coitado, viu tudo ir embora agora que tem fama e grana. A despeito da ingenuidade da letra, a voz do cabra e o arranjo econômico fazem a canção valer. Love, Hope And Misery, um eficiente Blues Pop também tem seu charme, com bom instrumental e trabalho de guitarra base bastante eficiente. The Love We’re Hoping For é a melhor criação de todo o disco, com levada em violão e voz pontuada por um arranjo de cordas belo, lembrando o que Jake poderia fazer em termos de maturidade, caso não tivesse optado pela diversificação sem alma. Put Out The Fire também lembra os velhos tempos, numa levada Country simpatiquinha. E para por aí. O resto é uma jornada célere estrada abaixo, com vários fracassos.

Gimme The Love, o single inicial, é um horror. A voz de taquara rachada de Bugg, charmosa em outras paisagens, é enfiada à força num arranjo dançante-eletro-malandrão, com corais de apoio lamentáveis e toda uma roupagem de anúncio de operadora de celular. Triste. O pior vem logo a seguir, com a balada climática/black de araque que é Never Wanna Dance, que sugere um parentesco musical de Jake com a produção atual de música negra americana, algo que, sabemos bem, não existe. Bitter Salt é outra canção popesca modernoide sem alma e sentido, mas nada é pior que Ain’t No Rhyme, aventura de Jake nos mares do Hip Hop, algo tão verdadeiro quanto uma nota de três reais. Outras cançonetas insossas encerram o disco, com destaque negativo para os climas e ambiências eletrônicas enfiadas em Hold On You, uma canção que poderia ser outro Country enxuto se não fosse arrastada para um banho de loja compulsório e de gosto duvidoso.

Ficamos na torcida para que Jake Bugg resolva dar continuidade a seu processo de amadurecimento pessoal e musical sem que julgue necessário mudar seu estilo. Repito: nada contra reinvenções e releituras, desde que elas guardem o mínimo de identidade em relação. Do jeito que este álbum está, parece apenas que Bugg está mudando por mudar. Decepcionante.

(On My One em uma faixa: The Love We’re Hoping For)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.