Resenhas

Bat For Lashes – The Bride

Natasha Khan conta história dolorosa e sensível em seu novo trabalho

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Ano: 2016
Selo: Parlophone/Warner Music
# Faixas: 13
Estilos: Experimental, Dream Pop, Chamber Pop
Duração: 47:27
Nota: 4.0
Produção: Natasha Khan, Jacknife Lee e Matt Hales

Natasha Khan é uma das melhores contadoras de história da atualidade. Seja nos mostrando excelentes e performáticos projetos paralelos, como o fantástico Sexwitch, ou nos encantando com sua operática voz em meio a um experimentalismo ímpar em Bat For Lashes, a compositora tem um talento inegável quando o assunto e fazer seu ouvinte penetrar profundamente um universo qualquer, evidenciando sempre um cuidado meticuloso com a produção geral dos discos. Podem ser histórias relativamente simples, mas a forma toda com que a ambientação é construída nos deixa totalmente entregues às mãos de Natasha, que pode nos conduzir para onde quiser. É dessa forma que ela nos convida a escutar a história de seu novo trabalho de estúdio, The Bride.

Desta vez, Natasha nos conta a história de uma noiva que foi deixada no altar por seu companheiro, sem nenhum motivo aparente ou claro. Isso, na verdade, é apenas um contexto inicial para uma longa jornada emocional e de aprendizado, envolta em uma atmosfera densa e melancólica, mas que torna a narrativa interessante, crua e plenamente identificável. Você pode não ter sofrido a mesma experiência da protagonista, mas certamente colocará um pouco de si ao ouvir os melancólicos versos de Close Encouters e Never Forgive The Angels. É um disco sobre perdas, e Natasha faz com que lembremos disso de uma maneira analítica, crua e extremamente realista.

Ser deixada no altar é apenas o começo, sendo relatado pontualmente na terceira faixa de The Bride. A partir disso, a compositora se usa de todas as memórias e sensações que tem para pintar quadros extremamente dolorosos, nos quais as fases de uma separação/perda estão presentes: a recorrente avalanche de pensamentos acerca do que os outros pensarão após o abandono (Honeymooning Alone), a falsa esperança de que as coisas voltem ao normal (Never Forgive The Angels), a dúvida perplexa de como as coisas seriam se a pessoa soubesse de seu destino (If I Knew), até finalmente chegar àquele frágil fio de esperança de que um dia você voltará a amar outra pessoa (I Will Love Again).

Não são somente as letras deste disco que fazem com que nos identifiquemos com a história da protagonista. A ambientação muito bem produzida construída por Natasha procura evidenciar tanto a dor pesada do processo, mas também o sentimento de confusão e total cegueira diante de uma situação tão imprevisível quanto esta. São construções de sintetizadores e guitarras que nos causam sensações muito pessoais e, juntamente com a bela voz de Natasha, somos diretamente aguçados a entrar em contato direto com nossas memórias mais dolorosas.

É por isso que uma história contada por Bat For Lashes nunca será apenas uma história. É saber que por mais que sejam cenários diferentes, nossas dores sempre serão insuportáveis e o processo árduo e intenso. Natasha Khan usa essa dor para ilustrar um belíssimo disco, um dos melhores de sua carreira. Você pode chorar, rir, se lembrar do passado e sofrer. Mas certamente, vai querer escutar e reconstruir todas estas memórias de novo. Natasha Khan é o Machado de Assis da música Experimental, construindo uma narrativa com comentários e digressões que te fazem entender a perspectiva plena da obra, mas que dá espaço o suficiente para o ouvinte completar as lacunas de seu trabalho com seus respectivos repertórios de dores e emoções.

(The Bride em uma faixa: Close Encounters)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique