Resenhas

Shura – Nothing’s Real

Disco de estreia da compositora recria influências oitentistas em fantástica experiência Pop

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Ano: 2016
Selo: Polydor Records/Interscope
# Faixas: 13
Estilos: Synthwave, Synthpop, Electro R&B
Duração: 61:00
Nota: 4.0
Produção: Shura, Joel Pott, Greg Kurstin e Al Shux

Shura é um exemplo de que um processo criativo nunca deve ser apressado. Conhecida por singles isolados com boas doses de música Pop e um verniz oitentista repleto de sintetizadores e vibes etéreas, a compositora e produtora inglesa sempre manteve uma aura de mistério acerca de suas produções. Entretanto, isso nunca impediu que os fãs criassem uma expectativa absurda sobre como um disco seu soaria, afinal cada single nos apontava para perspectivas e ambientações diferentes dos anos 80. Enfim, o mistério acabou e agora vemos todas as diferenças se unindo em um ponto médio que se concretiza em uma identidade definitiva da cantora.

É interessante como Shura, nascida no comecinho dos anos 90, percebe a década anterior como se tivesse vivenciado cada um de seus respectivos anos. Nothing’s Real reforça bastante essa influência reunindo os singles lançados e botando eles mais próximos, possibilitando uma análise melhor do conjunto de sua obra. É difícil escutar a faixa-título e não lembrar imediatamente de todo o espectro Pop que Madonna fez repercutir nos anos 80. Ou até mesmo os sequenciadores marcantes de Tongue Tied, que retomam fortemente uma época em que o Synthwave era notável em cada composição que bombava nas rádios. Shura vai tão longe, que chega a beirar o romantismo brega de A-Ha por meio da sentimental What Happened To Us?.

Tudo poderia encaminhar para uma proposta extremamente nostálgica, que rumaria para a concepção de um disco um tanto quanto preguiçoso, mas o perfeccionismo de Shura não foi em vão. É claro que a compositora se sente confortável nesta década, porém o que ouvimos aqui não é um retrato histórico e minucioso da música Pop desses anos, mas a interpretação que toda essa influência tem na cabeça da moça. Desta forma, somos guiados a encontrar as mais diversas misturas com a música contemporânea, principalmente com o R&B (Touch), Hip Hop romântico (2shy) e até mesmo a música Psicodélica (The Space Tapes). É interessante também como ela sutilmente consegue colocar uma faixa de dez minutos (White Light) e fazer com que apreciemos da mesma forma como se fosse uma música editada para rádio, com menos de quatro minutos. É tudo uma questão de uma produção refinadíssima que teve um longo de maturação, resultando em um sabor único e prazeroso de escutar.

Nothing’s Real evidencia o talento de Shura não apenas em criar ambientações e composições Pop excelentes, mas de ser a melhor curadora das referências de sua mente, fazendo isso de uma forma muito harmônica. Um novo disco pode demorar a vir, mas certamente a espera valerá a pena. Um disco da melhor e mais refinada safra da música Pop atual.

(Nothing’s Real em uma faixa: The Space Tapes)

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BOM PARA QUEM OUVE: Diana Ross, Madonna, Chairlift
ARTISTA: Shura

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique