Resenhas

Omni – Deluxe

Trio americano alia largação sonora com grandes melodias

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Ano: 2016
Selo: Trouble In Mind
# Faixas: 10
Estilos: Lo-Fi, New Wave, Pós-Punk
Duração: 29:04
Nota: 4.0
Produção: Nathaniel Higgins

Eu ia falar mal de Omni. Ia. É a estreia dos caras, um trio formado por baixo/vocal (Phillip Frobos, ex-Carnivores), guitarra (Frankie Broyles, ex-Deerhunter) e bateria (Billy Mitchell, outro ex-Carnivores), na onda do “som garageiro”, Lo-fi e deliberadamente sujo e mal tocado. Certo, era preconceito/saco cheio para com essa gente que tem meios de fazer um álbum minimamente bem produzido, mas que opta, de forma cirandeira e malandra, por fazer algo “sujo”, “mal acabado”. A paciência para com esse pessoal já se foi há tempos, admito. Após ouvir as dez canções desses sujeitos, perfazendo um total inferior a meia hora de música, não é possível falar mal, muito pelo contrário. Deluxe tem o meio DNA que Is This It, estreia de The Strokes, tinha em 2000, com a diferença que tem mais humor, mais espírito esportivo e melhores canções. Sim, e ainda tem uma diferença primordial: o que era pose no grupo de Casablancas e companhia, é autenticidade e boa referência neste trio.

Quando ouvimos uma canção como Cold Vermouth, sexta do álbum, com menos de três minutos e meio de duração, o que temos? Bateria nervosinha, guitarra proeminente e serpenteante, baixo agudo, mas presente e um vocal que sugere alguma noites em claro e porcentagem alta de etílicos no sangue. Até aí, morreu Neves. A diferença está no anda-e-para da melodia, do clima de diversão absoluta no estúdio e na ensolarada sequência de acordes de guitarra que toma conta da paisagem a partir do meio da canção, como um sopro de animação para ouvidos cansados. Broyles é bom guitarrista para se sair com pequenos coelhos da cartola New Wave/Pós Punk, mais surrada que qualquer outra coisa. Enquanto leva a lógica do menos é mais instrumental, outras bandas fracassam, mas Omni se sai excepcionalmente bem. Só posso reputar essa desenvoltura ao talento/bom humor dos caras.

Outro bom exemplo do que falo: Earrings, a quara canção. Uma introdução em que todos os instrumentos e vozes tentam soar mais altos que os outros se dissipa num ritmo feito para dançar imitando robô, algo que a gente não faz desde o verão de 1981, ou antes. Há novamente as boas guitarras de Broyles preenchendo espaços e a eficiência da cozinha, cumprindo seu papel com elegância e simpatia. Dá vontade de apertar as mãos dos caras e invadir o estúdio só de onda. Em algum ponto do caminho, acordes de guitarra em consonância com a bateria fazem clássico movimento de Pop dourado dos anos 1960, com propriedade e conhecimento de causa. Os caras são bons compositores por baixo dessa pinta de largados totais.

O ápice do disco é Siam, canção que tem timbre de guitarra tão estranho quanto o de Tom Verlaine em Venus, clássico de Television. Só que, ao invés de se permitir malabarismos artísticos mais complexo, Frankie Broyles se entrega a um popismo de seis cordas com o mínimo indispensável de esquisitice, traduzido aqui em pausas e mudanças sutis de ritmo, nas quais o baixo de Mitchell se mostra capaz de bastante coisa. Plane e 78 encerram o disco, a primeira soando fofamente dançante e harmoniosa, enquanto a segunda tem mais amostras do belo guitarrista que Broyles é. O título marca o verão Punk esclarecido de Nova York, um outro tempo, mas que parece existir em alguma linha paralela na sonoridade que Omni apresenta aqui.

Se você está atrás de um álbum capaz de causar sorrisos e uma vontade incontrolável de sair de noite com amigos em busca de diversão, aqui está uma boa alternativa. Quem sabe Omni não é, de fato, um The Strokes dos anos 10? Se for, todos temos a ganhar. Maravilha.

(Deluxe em uma faixa: Earrings)

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BOM PARA QUEM OUVE: Television, Talking Heads, The Strokes
ARTISTA: Omni
MARCADORES: Lo-Fi, New Wave, Ouça, Pós-Punk

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.