Resenhas

Sentidor – Memoro Fantomo/Rio Preto

Discos conversam entre si tendo como tema a depressão e seus efeitos

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Ano: 2016
Selo: Geração Perdida
# Faixas: 13
Estilos: Experimental, Chillwave, Ambient Music
Nota: 3.5
Produção: João Carvalho

Memoro Fantomo/Rio Preto não é um, mas dois álbuns – duas construções diferentes que tomam forma ao mesmo tempo ao interpretar de forma abstrata a depressão e os sentimentos que a doença acarreta. É difícil encarar sua beleza ou mesmo falar nela sabendo que as faixas dos álbuns brotaram em um terreno tão árido, mas também é difícil não enxergar certa esperança nas abstrações melódicas do mineiro João Carvalho, o tal Sentidor que nomeia o projeto.

As treze faixas do registro nasceram em épocas diferentes, mas compartilham da mesma fonte: as crises do produtor e de sua forma única de transformá-las em poesia sinestésicas através da música. São faixas criadas a partir de memorabílias e lembranças tiradas de períodos difíceis e que os refletem quase que como uma forma de superá-los. Como se, ao emoldurar diversos dos sintomas, a dor fosse de alguma forma suavizada.

E ao dar forma a seu próprio sofrimento, João carrega sua música de certa letargia, como se os barulhos que estão acontecendo ao seu redor passassem despercebidos, apenas como ruídos, como fantasmas que o assombram com sorrisos nos rostos (as crianças em Célula_1 podem explicar isso melhor). As notas esparsas ao piano, os arpejos no violão e os loops sintéticos são outros elementos importantes aqui, são a bases de melodias chorosas e bastante melancólicas.

Esse é aquele tipo de música que brinca com os elementos não por pura fruição estética, mas com os sentimentos gerados por esses elementos. E aí que reside o poder da música de Sentidor. No fazer fluir dos sentimos, em nos fazer sentir um pouco do que ele experienciou durante seus dias de depressão através de um belo emaranhado de notas, ruídos e sensações. De certa forma, é como se a música de Gold Panda se encontra-se com a faceta mais depressiva da Chillwave e o minimalismo da Ambient Music, mas de forma inversa, ao contrário do projeto inglês, o que move as faixas são de certa a forma a tristeza e não fascínio pelo mundo.

Memoro Fantomo/Rio Preto parece ser o retrato de uma tentativa de resgate feita por uma mente que sabe que está se desfazendo, que pedaço a pedaço se perde em si mesma. “Compor essas músicas foi a minha forma de dar sentido a um período de perigosa dessignificação na minha vida”, diz João sobre sua obra e não poderia ter melhor definição dele que a de seu próprio criados. No fim das contas, o disco é uma experiência sinestésica ao ouvinte e um baú para João, onde ele pode guardar seus sentimentos mais pessoais.

(Memoro Fantomo/Rio Preto em uma faixa: Nascer do Sol em Janeiro)

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BOM PARA QUEM OUVE: Tourist, Gold Panda, Four Tet
ARTISTA: Sentidor

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts