Resenhas

Moon Hooch – Red Sky

Trio novaiorquino aproxima fronteira entre Jazz, Rock e Eletrônica

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Ano: 2016
Selo: Hornblow
# Faixas: 13
Estilos: Jazz, Electro Jazz, Rock Alternativo
Duração: 47:46
Nota: 4.0
Produção: Wenz iMcGowan

Engraçado, ao ouvir o sensacional som que este trio novaiorquino promove, me lembrei de Soul Coughing, uma esquisita banda dos anos 1990, que fazia uma mistura de Rock e Jazz alternativos, que chegou a emplacar na trilha sonora do primeiro filme de Arquivo X, com uma canção chamada Unmarked Helicopters. Não me espantou que o cérebro por trás do grupo noventista, Mike Doughty, foi o responsável por descobrir Moon Hooch no circuito de Jazz underground da Grande Maçã. Formado por três estudantes da prestigiosa New School For Jazz And Contemporary Music, o grupo tem poder de fogo suficiente para crescer a aparecer fora da cena jazzística e encantar apreciadores de novidades com bom senso no terreno musical alternativo. Claro, estamos entre essas pessoas e você também deve estar. Aceite.

Num mundo como o nosso, paradoxal entre hits massivos e canções que soam revolucionárias, é preciso atribuir ao Jazz uma missão que está em sua origem: popularizar a boa música. O que significou dar chance a músicos negros, pobres e que não sabiam ler partituras, tampouco que frequentassem grandes escolas europeias de música, hoje deve ser interpretado como dar chance para artistas revolucionários – de verdade – romperem o bloqueio midiático e mostrar sua cara além dos parâmetros que o sistema – cada vez mais opressor – permite. Saem os batidões eletrônicos estéreis e repetitivos de hoje e entra o impressionante suíngue dançante/instrumental futurista do presente, proposto por Moon Hooch. Já pensou? Seu terceiro disco, Red Sky é um trabalho que apresenta o mais revolucionário uso do saxofone desde o advento de Morphine nos anos 1990.

Até porque não há apenas Jazz na música deste trio, composto pelos saxofonistas Wenzi McGowan e Mike Wilbur e completado pelo impressionante baterista James Muschler, que também opera aparatos eletrônicos com precisão robótica. Juntos produzem música que ultrapassa limites e, quando trafega pelas vizinhanças do Rock, lembra de Radiohead a King Crimson, dosando malabarismos artísticos com algum acento Pop muito sutil. Quando a coisa está no âmbito instrumental, não há sinal de improvisações estéreis, algo que torna o Jazz chato para quem não é músico – ou seja, a maioria – sendo este expediente substituído por preocupação com detalhes técnicos, texturas e climas sonoros. Sempre fica a sensação de ouvirmos algo moderno e longe das pentelhações inacessíveis. No caso deste Red Sky, a aproximação com formatos mais acessíveis se confirma também no uso de vocais em algumas canções, tornando-as muito mais próximas do Rock Alternativo do que qualquer outro estilo.

Exemplos desta fronteira sendo explorada estão em boas canções ao longo do percurso. Shot, a oitava faixa, é o melhor de dois mundos, mostrando formato pronto para as paradas de sucesso, fraseados vigorosos de saxofone, a bateria nervosíssima de Muschler e vocais convencionais. Poderia tocar em qualquer programa de Rock Alternativo que se preze. Sunken Ship já vai por um outro lado, flertando com um clima de música Eletrônica moderna e atemporal, sempre com o instrumental de Jazz à espreita, pronto para tomar conta da cena, algo que não acontece. On The Sun também vai nessa onda, ainda flertando com certas pitadas progressivas, uma lindeza só. As canções sem vocais também são audaciosas: Booty House é uma belezura, propulsionada por um fraseado sensacional executado pelos saxofones, que flertam com algo que bandas New Wave poderiam ter colocado em músicas dos anos 1980, mas ofuscados pela bateria, que parece tocada por um octópode.

Something Else é outro exemplo de levada anárquica. Poderia ser um anti-Jazz ou algo flertando com o Reggae/Ska, mas é Pop, instrumental, virtuosa e dançante, tudo ao mesmo tempo, sendo, provavelmente, a melhor faixa de todo o álbum. The Thought também segue por aí, dançante, porém mais contida e afeita a padrões roqueiros. A rigidez é quebrada gloriosamente pelo andamento de Alien Invasion, um verdadeiro Jazz para alienígenas, bom para ser tocado na cantina de Guerra Nas Estrelas. Broken Tooth feixa o álbum gloriosamente, com sonoridades sonhadoras, acústicas e eletrônicas, todas ao mesmo tempo. Moon Hooch é diferente, audacioso e com vontade de ir onde ninguém jamais esteve.

Vamos ouvir e levar adiante essa nova-velha alternativa jazzística como (re)invenção de uma música popular minimamente artística e interessante. Não custa sonha. Ouçam.

(Red Sky em uma faixa: Something Else)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.