Resenhas

Lone – Levitate

Disco do produtor inglês recorda a música Eletrônica dos anos 1990

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Ano: 2016
Selo: R&S
# Faixas: 9
Estilos: Eletrônica, House, Alternative Hip Hop
Duração: 33:09
Nota: 3.5
Produção: Matt Cutler

A nostalgia, jovens, é uma constante do universo. Não importa o tempo, a idade, sempre haverá alguém olhando para o passado com carinho e tentando reproduzi-lo no presente. É uma necessidade humana que se manifesta mais cedo ou mais tarde. Engraçado notar sua presença num estilo musical atrelado ao futuro de forma essencial como é o caso da Eletrônica. Uma ouvida em Levitate, o novo álbum do produtor inglês Matt Cutler, mais conhecido como Lone e voilá! Num passe de mágica, desembarcamos em algum lugar de 1992/93, bem no momento em que a cena Techno inglesa estava pronta para estourar para além do underground. Movimento paralelo ao Britpop, o Techno britânico talvez tenha sido a melhor época da música sintética até agora, na qual houve mais gente com mais ideias criando obras diferentes entre si e identificadas em relação a todo o resto. Um pouco deste espírito está aqui e isso é bom.

Sendo assim, temos a obra de Lone. Ela tem méritos de sobra para ostentar identidade própria, não sendo um mero embuste temporal. Um exemplo interessante é a duração do álbum. Enquanto criações noventistas do estilo ultrapassavam facilmente os 60 minutos de duração, muitas vezes surgindo em forma de álbuns duplos, este novo disco tem pouco mais de 33 minutos. Mesmo sendo preferível – em termos de música sintética – uma duração mais longa, o resultado por aqui é bem interessante, ainda que pareça alguma espécie de “rave de bolso”. Se pensarmos no título do disco, a ideia de Cutler é pegar o ouvinte e fazê-lo, literalmente, sair do chão. As canções enfatizam o aspecto dançante, deixando um pouco de lado a ideia de “música viajante”, também intimamente associado a este gênero.

Alpha Wheel é a primeira canção e parece uma daquelas versões “radio edit” de alguma música três vezes maior, feita por gente como Orbital ou Underworld, com bastante ênfase na batida e na marcação do ritmo, conseguindo belos efeitos. Backtail Was Heavy chega logo após, mantendo o clima no mesmo nível. Batidas curtas, sintetizadores fazendo a cama rítmica, com peso e precisão, enquanto um teclado executa notas repetidas, visando a hipnose do ouvinte, seja em casa, seja na pista de dança. Há espaço até para uma canção com pouco mais de um minuto e meio, The Morning Birds, que dão uma tonalidade de sonho à coisa toda. Em seguida, mais ritmo, porém, com um andamento diferente, mais lento, mais oitentista, que conduz Vapour Trail com elegância e detalhes. Do meio pro fim, vozes desconexas e fraseados de teclados dialogam em harmonia. Talvez seja a melhor canção por aqui.

Triple Helix proporciona ao ouvinte uma saudável incursão pelas fronteiras entre o Trance e o Drum’n’Bass, com bastante rapidez e conhecimento de causa por parte de Lone. A trinca seguinte, Breeze Out, Sleepwalkers e Sea Of Tranquility aposta neste domínio de múltiplas vertentes musicais exibido por Cutler. A primeira é climática, exceção em todo o álbum, misturando vozes sampleadas com pinceladas de teclados. A segunda vem com beats esparsos sobre sonoridades quase progressivas que saem dos teclados, enquanto a terceira contraria seu título e apresenta um pequeno caos controlado em termos de ritmos que se chocam na pista de dança. O fim chega como consequência natural na simpática e orquestral Hiraeth, com ares sinfônicos e espaciais.

Se você gosta da música eletrônica de hoje, representada lamentavelmente pela tal EDM, esqueça este álbum. Se você quer conhecer música eletrônica interessante, que seja capaz de te levar a outro tempo e espaço, melhor servidos de criatividade, este Levitate é um caminho seguro.

(Levitate em uma música: Alpha Wheel)

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BOM PARA QUEM OUVE: Underworld, Boards of Canada, Orbital
ARTISTA: Lone

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.