Resenhas

Schoolboy Q – Blank Face LP

Rapper entrega disco de Gangsta Rap que olha para o futuro e brilha mais que seus singles

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Ano: 2016
Selo: Top Dawg, Interscope
# Faixas: 17
Estilos: Hip Hop, Gangsta Rap
Duração: 72:27
Nota: 4.0
Produção: The Alchemist, Cardo, Cubeatz, Dem, Jointz, DJ Dahi, Frank Dukes, J.LBS, Larrance Dopson, Metro, Boomin, Nez & Rio, Sounwave, Southside, Swizz Beatz, Tae Beast, Tony Russell, Tyler, The Creator, Willie B, Yex

Uma das variavéis menos evolutivas dentro do Hip Hop é o chamado Gangsta Rap. Preso a normas de décadas passadas, o subgênero acabou por ter seu auge entre a metade dos anos 1990 e anos 2000 para depois ficar extremamente nostálgico quando explorado por novos artistas. Se de Tupac até 50 Cent e The Game encontramos artistas que souberam explorar o peso lírico conciliado a batidas bem elaboradas, não podemos dizer que tivemos a mesma performance nos últimos dez anos. Alguns nomes vêm e vão, “one hit wonders” surgem, mas, constantemente, nos vemos presos a discos com singles fortes e pouco contéudo para ser extraido de sua longa duração. Felizmente, Blank Face LP chega para mudar esse estigma.

Schoolboy Q, rapper do mesmo selo de Kendrick Lamar, Top Dawg, não é um figura nova. Na verdade, suas participações com diversos artistas, de Kanye West até Anderson .Paak, o torna carimbado dentro do Hip Hop. Seu último disco, Oxymoron, ganhou uma certa repercussão e, apesar de não possuir a densidade necessária para alçá-lo como uma estrela no meio, funcionou em seus poucos singles fortes, como Collard Greens, Man of the Year e Hell Of a Night. Mesmo assim, tais momentos são consumados em participacões especiais e modus operandi em uma produção funcional para 2014. No entanto, seu novo trabalho expande novas fronteiras e nos faz trilhar caminhos nada certeiros dentro do Gangasta Rap.

Esqueça o hit viral desse disco, THat Part – ótimo meme sonoro entorpecido nos comuns hit hats descompassados e um subgrave constante similar ao que encontramos hoje em dia em atos de Drake até Young Thug. Apesar da qualidade da faixa, ela denota uma escolha estética que quase não se segue dentro do LP. Participações especiais aumentam o brilho do disco, como Vince Staples na pesada Ride Out (com ares de Ludacris) ou Anderson .Paak na swingada faixa título, no entanto dificilmente Q perde o fio da meada e se destaca menos que seus companheiros.

Produções diversas capturam a pluralidade de versos e estilos que Schoolboy consegue comportar – R&B na sexual Overtime com Miguel, belíssimas harmonias com SZA em Neva CHange, a maravilhosa balada WHateva U Want com Candice Pillay ou mesmo o trap de THat Part com Kanye. Em cada um desses momentos, o rapper entrega perfomances distintas e ainda assim suas. Por fim, o ouvinte consegue capturar as rimas do rapper e acaba se impressionando com sua multidisciplinariedade. O selo TDE exige mais do que simplesmente um disco de sucesso e tenta sempre entregar um trabalho acima da média em termos de criatividade e marcas para o futuro.

Se considerarmos Blank Face LP um concorrente ferrenho ao clássico To Pimp A Butterfly, estaremos nos enganando. Porém, ao longo de 17 faixas, temos um trabalho consistente, dinâmico e nem um pouco enjoativo como Views, de Drake – trabalho que poderia ser resumido em 10 faixas. Aqui, não existem itens descartáveis e alguns momentos realçam a sua conexão interna.

O maior exemplo acaba ficando com a grooveada Groovy Tony/Eddie Kane, narrativa estilística que poderia muito bem ser feita por Kendrick e que, ao longo de seus seis minutos, nos coloca dentro de um filme dinâmico, com várias partes e um ótimo clímax. Sua segunda parte é brilhante e pode ser considerada a melhor faixa do disco. A conexão citada, acontece com a oldschool Kno Ya Wrong com Lance Skiiwalker, momento escapista e talvez o único instante que nos faça olhar ao passado do Gangsta Rap no disco. A nostalgia, entretanto, funciona e nos coloca em um momento do gênero no qual o suíngue, não o subgrave, era moeda de troca ao sentimento Gangsta. Por sorte, Schoolboy Q nos entregou um dos discos mais consistentes em um ano repleto de ótimos nomes com obras longe de serem tão bem trabalhadas como Blank Face LP – álbum para apresentar o rapper no primeiro hall de artistas do gênero.

(Blank Face LP em uma faixa: Groovy Tony/Eddie Kane)

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.