Resenhas

Thiago Pethit – Estrela Decadente

Músico se consagra como um intérprete maduro ao assumir o papel de um eu-lírico obsessivo e carente em uma obra teatralizada

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Ano: 2012
Selo: Independente
# Faixas: 9
Estilos: Indie, Pop, MPB
Duração: 31:50
Nota: 4.0

“Deixe-me só com o meu choro/Deixe-me só com a minha dor/Pra mim, nada serve de consolo/Deixe-me só, meu amor”. É assim, em um misto de desabafo e pedido de atenção, que a faixa-título de Estrela Decadente se desenrola em meio a guitarras incorporadas à pegada “cabarezística” que já conhecemos do trabalho de Thiago Pethit. Esse refrão revela muito do eu-lírico, um personagem egocêntrico e carente, que narra o disco em primeira pessoa com muita teatralidade e em um certo “jogo de sedução” com o ouvinte.

A narrativa do álbum inicia-se com o single Pas de Deux, que dá continuidade à sonoridade de Berlim, Texas (2010), já demonstrando um pouco da instabilidade sonora e emocional que permeiam o disco em um flerte que dá ao ouvinte uma falsa sensação de controle (“me basta só você querer”). Mas trata-se de um personagem tão autocentrado que dificilmente se importaria realmente com seu interlocutor, tanto é que oito das nove faixas do álbum tem “eu” ou “me” no primeiro ou segundo verso (a exceção fica em Haunted Love, quando “I am wounded too” aparece apenas na terceira frase).

É como se o eu-lírico se considerasse tão interessante a ponto de tentar conquistar o ouvinte falando apenas de si mesmo. E algo que o personagem deixa bem claro desde o início é sua instabilidade – o refrão de Moon, a segunda faixa, diz que seu coração “muda com a lua”. O verso sacana justifica as constantes variações de uma canção para outra. Algumas são mais roqueiras (Dandy Darling, Devil in Me), outras são belas baladas Pop (So Long, New Love e Perto do Fim – com participação de Mallu Magalhães) e há espaço ainda para maiores “ousadias” sonoras, como as vozes em primeiríssimo plano de Haunted Love, o que faz com que a canção pareça a capella ao ouvido desatento, ou o “teatrinho” de Surabaya Johnny, que encerra o disco com diversas inserções de falas contra o Johnny do título, performadas pelas vozes de Pethit e Cida Moreira.

Com faixas curtas e esse dinamismo das variações, Estrela Decadente é um álbum rápido de se ouvir e vem na medida certa para a voz que canta seus versos chamar a atenção e intrigar o ouvinte para que ele vá atrás para conhecer mais de seus segredos, desabafos e encantos. Thiago Pethit mostra-se um intérprete maduro para vestir a máscara do personagem central da obra sem deixar claro nas músicas se também encena em primeira pessoa, ou se sua performance está no “faz de conta” que a narrativa sugere.

É a evolução natural do trabalho do músico, que trabalhou ainda melhor o conceito teatral/cabaré desta vez do que em seu elogiado trabalho anterior. Estrela Decadente o coloca também em um posto interessante no cenário nacional, como um nome capaz de agradar tanto os admiradores da MPB, quanto os de outras cenas, como a Indie – fruto das escolhas de timbres utilizados nas faixas, letras acessíveis e, obviamente, do alto nível de seu trabalho.

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BOM PARA QUEM OUVE: Tulipa Ruiz, Pélico, Arcade Fire
MARCADORES: Indie, MPB, Pop

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.