Resenhas

Zula – Grasshopper

Grupo novaiorquino estica limites do Pós-Punk

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Ano: 2016
Selo: Inflated Records
# Faixas: 8
Estilos: Pós-Punk, Rock Alternativo, Experimental
Duração: 38:04
Nota: 4.0
Produção: Henry Terepka, Nate Terepka

Zula é um quarteto de Nova York, liderado pelos primos Henry e Nate Terepka. A cartilha musical dos caras é Pós-Punk oitentista, inspiração musical de 10 entre 10 artistas contemporâneos, né? O segredo então é abordar essa sonoridade com algo que deixe transparecer alguma originalidade, do contrário, o risco é duplo: parecer com as bandas e artistas daquela época ou, pior ainda, parecer com o que o pessoal de hoje vem fazendo. Felizmente, Zula sai por uma tangente de bastante respeito e este seu segundo disco, Grasshopper chega a altos níveis.

Com um afeto especial pelo experimentalismo e pela anarquia sonora, os sujeitos não se sentem na obrigatoriedade de respeitar timbres e cacoetes manjados, partindo para uma saudável viagem de experimentalismo e adorável porralouquice sonora. O mérito dos caras, no entanto, está em não deixar que a sedutora opção pela indigência musical os seduza, como faz com muita gente hoje em dia, que abre mão do mínimo necessário para conceder algum prazer ao ouvinte em nome de uma largação que irrita mais que cativa. Com Zula não há esse perigo e a audição nunca cai no lugar comum. Ponto pros caras.

A novidade está em recriar o clima do Pós Punk americano, especialmente de gente como Television e Talking Heads sem parecer com nenhuma dessas bandas, reproduzindo o espírito aventureiro que sempre as caracterizou ao longo de suas carreiras. Exemplo logo de cara: a faixa de abertura, Speeding Towards The Arctic, com seus quase oito minutos de duração, conduzidos por vocais de apoio celestiais (cortesia da baixista Noga Shefi), guitarras funky com conhecimento e causa e um instrumental de fazer inveja a muita gente. A faixa seguinte, Be Around, não tem nada em comum, embarcando numa levada de baixo sinuosa, teclados climáticos e um bom trabalho de bateria, que parece monótona e banal, mas que conduz com suingue e simpatia (trocadilho involuntário) a canção. No meio do caminho, programações eletrônicas dão uma blitz na música, colocando um travo nada amargo de invenção por aqui. Há mais melodia por aqui, mais harmonia e uma certa semelhança ao que aconteceria se os conterrâneos de Metricgravassem algo com despojamento sonoro.

Seguindo adiante, Santa Cruz tem certa latinidade moderna e nada caricata, temperada com percussões, efeitos e um clima de Psicodelia subterrânea e subentendida, nada fofa. Fuck This puxa o alto astral para trás, confere ritmo e resposta mais aleatórios e enfia imprevisibilidade numa melodia que parece não ter rumo certo e, justo por isso, se mostra tão interessante aos ouvidos mais curiosos. Getting Warm tem tecladinhos, mais dobradinha de baixo/guitarra em ótimos momentos e uma melodia que tem popismo e experimentalismo nos lugares certos, com direito a solo viajante nos minutos finais. Basketball começa eletrônica e deságua psicodélica com bateria que lembra formações de Acid Rock lá da virada dos anos 1980/90, além de manter a saudável concessão ao imprevisível, que se materializa numa certa piração percussiva que toma conta da canção lá pro final. Uma faixa curtíssima, de pouco mais de um minuto, chamada Dogs Wake Up, introduz a última canção do álbum, a hipnótica Lucy Loops, na qual novamente brilham os toques vocais/celestiais de Noga, em meio a batidas dançantes, devidamente propulsionadas pelo baixo da moça.

O segundo álbum de Zula é uma grata surpresa, soando ousado e cheio de bons momentos. Tem tudo o que você pode esperar de uma banda como essa: experimentalismo, melodia, modernidade e o adicional de exibir conhecimento de causa e boas influências, sem que perca um centímetro de originalidade. Uma belezura.

(Grasshopper em uma música: Lucy Loops)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.