Resenhas

James Vincent McMorrow – We Move

Cantor e compositor irlandês se aproxima ainda mais do Soul e afins

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Ano: 2016
Selo: Faction Records/Believe Records
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, R&B Indie, Pop Alternativo
Duração: 44:22
Nota: 4.0
Produção: James Vincent McMorrow, Nineteen85, Frank Dukes

A carreira musical do cantor e multinstrumentista irlandês James Vincent McMorrow pode ser entendida como um caminho que ele percorre em direção à música tradicionalmente negra estadunidense. À medida que cada novo álbum – este We Move é o terceiro – é lançado, James dá mais um passo em direção ao momento em que sua música será completamente semelhante ao que entendemos por Soul, ou algo assim. Não digo com este postulado que ele chegará a soar assim um dia; seus passos podem ser mais ou menos rápidos ou em quantidade maior ou menor do que o necessário. O que fica como certeza é onde tudo isso vai dar e de onde o nosso amigo veio, no caso, do nascedouro Folk Alternativo dos anos 00, talvez o mais poderoso nicho estilístico a ter lugar no início do século, rivalizando com o das bandas filhotes de The Strokes e The White Stripes.

O barato dessa jornada é, justamente, o caminho. Nestes três discos, James vem imprimindo uma elegantíssima alquimia entre uma visão musical em que a Eletrônica é sutil, as influências são bem dosadas e o talento de compositor/vocalista surge logo à frente. O trabalho anterior, o assombroso Post Tropical, de 2014, surgia como a definição de rumo e sugeria um tímido abraço a vários detalhes sutis que vieram temperar a mistura que James oferecia então. Calcado especialmente na versatilidade e força dos falsetes, este álbum mostrava que, naquele momento, uma previsão de flerte firme com uma música mais tradicional era o objetivo de McMorrow. Aqui a tonalidade já foi alterada e o que era solene e espiritual foi substituído por uma forma mais próxima do R&B, no sentido dançante e cheio de levadas, característica marcante de uma canção mais, digamos, mundana.

Não por acaso temos a presença do produtor canadense Ninety85 à bordo do estúdio. Batizado Paul Jefferies, o sujeito já trabalhou com o rapper Drake, além de assinar produções de Nicki Minaj e Jessie J, o que significa, claro, uma experiência considerável no terreno em que a música Pop de consumo planetário pega emprestadas batidas eletrônicas e acento negro primordial. Foi por insistência de Jefferies que ele e James vieram a trabalhar neste novo disco, sob a alegação de que “havia algo” nas canções e composições que suscitavam uma nova abordagem. Dito e feito. O que temos aqui é um álbum moderníssimo, cosmopolita – com gravações feitas em Toronto, Los Angeles e Dublin – que se permite flertar com estilos distintos, sem pressa, que transmite a noção de que vários detalhes foram levados em conta na hora das gravações e revelados pela produção. Tudo por aqui parece ter funcionado às mil maravilhas.

Há momentos realmente bons ao longo do feixe de dez canções. O single Rising Water, responsável pela abertura do disco, já entrega o ouro e dá a tal noção de passos dados em direção à música negra. Uma batida noturna, vocais de apoio eletrônicos e a voz de McMorrow, que é um assombro até gargarejando de manhã. A boa melodia também ressalta o quanto o sujeito leva jeito pra coisa. I Lie Awake Every Night é uma canção confessional sobre transtornos alimentares que James viveu na adolescência e traz esta temática espinhosa envolvida num arranjo modernizante de Soul setentista. A Eletrônica dá um charme especial a Evil, mostrando a fluência que James tem nesta área, algo que dá um charme especial/modernidade à sua obra sem descaracterizá-la. Get Low tem vocal em canto-resposta, toda sinuosa e simpática, impulsionada por um fraseado simples de guitarra, que vai sendo completado por batidas, climas e tudo mais.

A melhor faixa de We Move é Killer Whales, com uma intensidade vocal que mostra quem James Vincent é. Um irlandês, que, a exemplo de muitos outros no passado, tem a teimosia territorial de se achar capaz de fazer música negra americana com perfeição, ainda acrescentando suas visões e marcas estéticas. Desse jeito ele mantém viva a tradição de bons artistas da Ilha Esmeralda e se posiciona como um artista próximo de estourar mundialmente. A torcida que fazemos é que ele não se perca por aí, neste turbilhão de coisas que surgem depois que a pessoa se torna mundialmente conhecida. Sobre o caminho, James ainda está na rota certa.

(We Move em uma música: Killer Whales)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.