Dentro do coletivo Odd Future, havia vários gigantes. Entre os gigantes, havia Mellowhype e dentro dele, Hodgy. Escondido em meio a grandes nomes, o produtor e rappper por vezes passa desapercebido pelos ouvidos, fato que vem tanto da árdua comparação com grandes nomes, como Frank Ocean e The Internet, como de um histórico de mixtapes e discos fracos, explorando pouco a inventividade que OFWGKTA mostrou ser capaz de fazer. Entretanto, foram precisos estes registros medíocres para percebemos que o rapper estava começando a delinear mais precisamente sua identidade, fato que começamos compreender melhor em sua última mixtape, They Watchin Lofi Series 1. Dessa forma, o lançamento de Dukkha continua esta novela, na qual começamos a ver um diamante se lapidando, mesmo que lentamente.
A nova mixtape antecipa o aguardado disco de estreia de Hodgy, World Champion e, portanto, é natural que os elementos comecem a tomar uma forma mais precisa. Ainda há aquela persistente e pouco criativa inclusão de construções estereotipadas do Trap, utilizando em excesso drum machines TR-808 e baixos que explodem os subwoofers. Entretanto, parece que os samples estão passando por uma curadoria mais seletiva. A surpreendente Soul reinterpreta samples bem suaves e chill, se apoiando em saxofones sensuais e uma edição de timbres inteligente e criativa produzida pelo trio The Beat Brigade. Origami, ainda que seja um outro exemplo de Trap genérico, faz bom uso de uma melodia vocal suave que consegue sustentar a progressão da música, com edições macabras de timbres e um reverb misterioso.
De qualquer forma, é uma mixtape que mostra que há ainda muito caminho a se percorrer, mas os primeiros indícios de uma maturidade começam a ser notados, de forma a revelar que todos aqueles registros medianos do passado não foram em vão e serviram como exercícios de aperfeiçoamento. O primeiro disco pode rumar para diferentes propostas, mas é certo que Hodgy se afirma como produtor mais sério ao tomar mais consciência de sua obra e como ela comporta além dos moldes clichês que o Hip Hop tem tomado. O registro é um ensaio que, quando terminado, pode-se afirmar: “tá rolando.”
(Dukkha em uma faixa: Soul)