Resenhas

D.A.R.K. – Science Agrees

Trio marca colaboração de Andy Rourke e Dolores O’Riordan em projeto New Wave

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Ano: 2016
Selo: Cooking Vinyl
# Faixas: 10
Estilos: Pop Alternativo, Synthpop, New Wave
Duração: 48:32
Nota: 3.0
Produção: Olé Koretski

D.A.R.K é mais um desses projetos paralelos e inusitados de gente conhecida procurando seguir “novos caminhos” e fazer “aquilo que sempre gostaram”, mas que suas carreiras opressoras no século passado os impedia. Quem nunca? Os conhecidos aqui são a ex-vocalista de The Cranberries, a irlandesa Dolores O’Riordan e o ex-baixista de The Smiths, o excelente – e subestimado – Andy Rourke, sem o qual mais da metade das canções marcantes de sua banda original, simplesmente não existiriam. Eles e mais o produtor/DJ/pessoa moderníssima Olé Koretski se juntaram e lançam agora um álbum colaborativo, este mediano Science Agrees. O projeto começou sem Dolores, que veio a bordo ao longo do processo e, pelo que diz o release, a partir de descobertas e pontos em comum, tanto em música quanto em personalidade, os três viram que era possível lançar um trabalho em conjunto.

Não é implicância, apesar de parecer. O som que o trio escolheu pra visitar era novidade quando formações como Garbage surgiram lá no meio da década de 1990. Novidade nem é bem o termo, uma vez que a banda de Shirley Mason e Butch Vig fazia, justamente, uma revisita de formatos New Wave com o uso da eletrônica noventista, produzindo algo que era inusitado e mais ou menos inédito. Não bastasse este lapso temporal, há uma decisiva diferença entre o grupo e este D.A.R.K: a existência de boas composições. Enquanto Vig, Manson e companhia seguravam a onda nas canções, Koretski, Rourke e Dolores estão, como diria, alguns degraus abaixo. Este Science Agrees seria uma total perda de tempo se não fosse por um dado importante: todo mundo aqui parece se divertir bastante. E não há qualquer tentativa de emular as bandas principais de Dolores e Andy, pelo contrário. Há este conceito de Rock e Eletrônica unidos na tentativa de buscar o acento New Wave perdido no passado.

Se você curte essa tentativa de recuperar os anos 1980, especialmente o início da década, o Pós-Punk/New Wave mais sombria, noturna, este disco vai te agradar. Não vá pensando que é mais uma velharia ou exercício de estilo, Koretski sabe colocar pequenas nuances por todos os cantos, com o objetivo de tornar o álbum totalmente contemporâneo e curtível para quem começou a ouvir música em, sei lá, 2010. Além disso, é um feixe de 10 canções que primam pela devoção ao bom e velho Pop radiofônico, com refrãos simples e melodias lineares, facilitando a audição. Os vocais são de Dolores e do próprio Olé, que se revezam no microfone principal, mas o baixo de Andy surge como o provável grande destaque do disco fazendo o que sempre fez de melhor, que é pavimentar sólidas passagens para os outros instrumentos, sempre com boas linhas e progressões.

Destaques? A belezinha que é Watch Out, na qual Dolores quase relembra seu passado vocal, mas sai pela tangente, compensada pela participação de Olé. As quatro cordas de Rourke surgem gordas e pesadas aqui e ali. Miles Away também é legalzinha e dançante, mas aí Dolores não segura a onda, comprometendo a faixa. Curvy, que abre o disco e é o primeiro single, entrega um climão neworderiano noventista simpático e convidativo, com timbres e efeitos de bateria bem convincentes. Chynamite é uma semi-balada, talvez a mais parecida com ex-banda, no caso com The Cranberries, mas não chega a irritar. O prêmio de melhor canção vai para a boa The Moon, cheia de timbres, coisas e efeitos, especialmente no baixo, mostrando que não falta potencial para algo interessante vir num futuro próximo.

Torço para que o trio excursione, ache sua real dinâmica enquanto banda e que arrebanhe fãs, gerando demanda para um novo álbum, que poderá, quem sabe, ser melhor que esta estreia. Ela não é ruim, mas fica devendo. Como sou bom e tenho coração grande, darei cotação simpática como demonstração de boa vontade.

(Science Agrees em uma música: The Moon)

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BOM PARA QUEM OUVE: Garbage, New Order, Depeche Mode
ARTISTA: D.A.R.K.

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.