Resenhas

Música de Selvagem – Música de Selvagem

Estreia do grupo explora o Jazz contemporâneo de forma errática e experimental

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Ano: 2016
Selo: Risco
# Faixas: 6
Estilos: Jazz, Jazz Contemporêneo
Duração: 35'
Nota: 3.0

Apesar de chegar aos ouvidos brasileiros somente agora, a estreia homônima do quinteto Música de Selvagem já estava disponível aos gringos desde abril. Fazendo uma espécie de caminho inverso, o disco estreou primeiro no selo belga El Negocito Records para depois ser lançado por aqui pelo paulistano RISCO. Esse caminho até poderia ser explicado pelo nosso consumo de Jazz ainda bem baixo, mas creio que isso não vem ao caso.

A história da banda, principalmente seu nome, surgiu de uma anedota interessante vivida pelo baixista Arthur Decloedt, que, certa vez, tocando com um famoso saxofonista francês em uma pequena cidade da Catalunha francesa, foi apresentado ao conceito de “música de selvagem”, quando seu parceiro de palco recusou-se a tocar uma música brasileira por apontar a selvageria de nossas produções. Esse episódio parece ter moldado em grande medida o que ouvimos no projeto, formado anos depois na parceria com o saxofonista Filipe Nader (colaborador do grupo Charlie e Os Marretas).

Da formação como uma dupla em 2013 até hoje, agora como um quinteto, o grupo foi construindo seu caminho e mostrando seu frescor do Jazz contemporâneo que se livra de qualquer amarra para suas criações. O resultado, como era de esperar, é selvagem, errático – o que pode assustar quem não é acostumado com as improvisações e com os timbres estridentes (às vezes nervosos) do conjunto de sopros do grupo.

São apenas seis músicas, que somam pouco mais de 35 minutos, de uma experimentação jazzística bastante livre. Fluida, mas urgente ao mesmo tempo, Isto É Adoniram abre o disco com um vigoroso time de sopros. Pandion Haliaetus surge na sequência com um tema misterioso e imponente, assim como a tal águia que dá nome à faixa. Já Fragmento N1 cria um momento mais brando na audição, sendo talvez a música mais “civilizada” do registro. A curtinha Cerbero vem em seguida experimentando com sonoridades abafadas do instrumento e criando um efeito claustrofóbico, como se o ouvinte estivesse em um labirinto sonoro. Com mais de nove minutos, Folivara explora diferentes ecossistemas dentro de uma só música, ora pesseando por regiões mais áridas, ora desbravando uma mata mais fechada. Por fim, Cara de Coragem fecha o registro parecendo beber na música brasileira, na tal “música de selvagem” denunciada pelo saxofonista francês.

(Música de Selvagem em uma música: Folivara)

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts