Resenhas

Omar Rodríguez-López – El Bien Y Mal Nos Une

Segue a série de lançamentos de álbuns do cantor e guitarrista portoriquenho

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Ano: 2016
Selo: Ipecac
# Faixas: 10
Estilos: Eletrônica, Experimental, Rock Alternativo
Duração: 35:55
Nota: 3.0
Produção: Omar Rodríguez-López

Este simpático El Bien Y Mal Nos Une dá sequência ao jogo com os lançamentos de nosso prolífico e simpático amigo Omar Rodríguez-López, ex-integrante de The Mars Volta e At The Drive In . Na verdade, o prefixo “ex” nem se aplica tanto, uma vez que estas bandas estão em constante processo de ressurgimento através de shows e apresentações especiais. De qualquer forma, apenas para recapitularmos, Omar (ou ORL) teve seu catálogo de obscuridades solo, especialmente as gravadas de forma caseira, abiscoitadas pela gravadora Ipecac, da qual Mike Patton é sócio, além de fã de nosso amigo portorriquenho. Daí que vivemos tempos de lançamentos periódicos das gravações de ORL, seja por via digital, seja na forma de um box de CDs, que virá no fim do ano. Enquanto isso, os novos-velhos álbuns, são disponibilizados periodicamente até 2016 encerrar suas atividades e quem ganha com isso somos nós, público e crítica.

Este novo álbum é uma reunião de remixes e reinterpretações de faixas que Omar já havia gravado, lá pelas bandas de 2010/11. Mais que qualquer experimento eletrônico ou improvisador, o que temos de mais interessante por aqui é a capacidade que o artista tem de soar Pop, ainda que isso pareça sempre em segundo plano em sua obra. Verdade, que Omar é um cara talentoso, que talvez não caiba nas estruturas harmônicas padronizadas, daí sua constante busca por formatos experimentais, algo que é louvável. Em paralelo, talvez de forma menos privilegiada do que deveria, ele tem habilidade para expressar-se nos termos Pop, construindo refrãos e canções que, caso o mundo tivesse dado certo, tocariam em emissoras de rádio mais arejadas.

Exemplos não faltam por aqui. A primeira canção, Violencia Cotidiana, cantada em espanhol – traço comum a todas as faixas do álbum – tem respeitáveis 3:41 minutos de instrumental criativo, refrão simpático e um clima de outtake de gente como Beck. Acuerdate, logo em seguida, é cheia de nuances, efeitos de scratches e uma ambientação de canção dos anos 1980 reinterpretada. A voz surge mixada no meio da massaroca sonora mas surge clara e forte na hora do (bom) refrão. Amor Frio é uma canção cheia de teclados e batida latina eletrônica simpática, que vai criando uma atmosfera de mistério, talvez figurando como exceção a este panorama Tecnopop que se ergue de forma subliminar por aqui.

Perdido confirma que, sim, Omar é um artista que tensiona experimentalismo e facilidade. É bom exemplo de canção híbrida, com backing vocals e arranjo cheio de detalhes e capaz de escrever versos como “vivo em las solas de una comunión entre un hombre y su creador”, que, em português significa: “vivo sozinho em uma comunhão entre o homem e seu criador”. Uma aura de demotape impregna o arranjo de Humor Sufi, canção meio sombria e novamente pendente para o lado mais experimental, mas que abre espaço para a singela canção de ninar que é La Voz, apesar dos vocais exibirem notas e inflexões pouco convencionais para este tipo de música, novamente exibindo a dualidade de ORL. As três faixas finais, Yo Soy La Destruccion, Planetas Sin Sol e Estrella Caída, que entrelaçam-se quase numa suíte, são mais experimentais e ousadas.

Omar tem em sua obra ares de Dr. Jeckyl e Mr. Hyde. Ele pode ser convencional, polido e eficiente sob o ponto de vista Pop, mas tem em si uma força criativa anormal, capaz de fazê-lo perder a noção e entregar verdadeiras obras ininteligíveis. O que fornece equilíbrio e sustentação à sua obra é, justamente, a tensão entre esses dois aspectos. Este álbum – e boa parte dos outros que ele lançou – mostram isso. Às vezes ele exagera num dos dois “eus” que compõem sua persona criativa e ficamos na expectativa disso. Sempre.

(El Bien Y El Mal Nos Une em uma música: Perdido)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.