Matheus Accioly é um contemplador sensível por natureza. Sensibilizado pelos diferentes gêneros criados na internet, bem como por influências brasileiras como a Bossa Nova e a MPB, seu projeto MASM mostrou aos poucos a densidade etérea de sua mente, produzindo fusões bastante interessantes. Com o curioso EP Pacing To em sua discografia, fruto da parceria com o produtor filipino Cy Tamura, o compositor alagoano se mostrou um atento ouvinte de Synthwave, Vaporwave e música Experimental, prestando atenção aos mínimos detalhes de suas canções e evitando cair nos fáceis clichês dos gêneros. Dessa forma, criou-se uma aura nostálgica, ao mesmo tempo que futurista e com um tempero tupiniquim, evidenciada principalmente nas doces melodias. Agora, MASM nos entrega seu primeiro disco de estúdio e sua contemplação vira a atenção para o próprio Matheus.
Com um título desses, é difícil negar a ambientação praiana que Maré Rasa tem. Contrário ao estereótipo quente e tropical, Matheus constrói suas composições com pads de sintetizadores bastante frios e com acordes introspectivos que tornam a praia vazia e apenas dele – um local propício para a reflexão que permeia todo o disco, mas acompanha as diferentes naturezas de seus pensamentos, ora produzindo texturas mais suaves, ora explorando timbres mais agressivos. Durantes os pouco mais de quarenta minutos do disco, somos guiados pelo subconsciente do alagoano e, assim, é natural que as mais diversas referências venham em momentos oportunos. Afinal, estamos ouvindo a experiência de ser Matheus, um brasileiro cativado pela tecnologia e alagoano de berço.
A reflexão de MASM começa na sua cabeça, mas ela está do outro lado do mundo, mais precisamente em Melbourne, uma faixa que faz de baterias pré-programadas e teclados reverberados a plataforma para o mergulho neste mar. Levarei é uma espécie de releitura brasileira de clássicos do Vaporwave como Floral Shoppe, de Macintosh Plus, e até mesmo anteriores ao gênero, como Digital Dance, de Software. That’s Not Me cria um clima misterioso, quase como a abertura de Arquivo X, mas imprimindo uma doce melodia e sintetizadores estereótipos da Synthwave. As Soon As I Am Naked retoma a parceria com Cy Tamura, apostando em timbres ressonantes em uma estética mais Ambient Music e introspectiva. Caça talvez seja o momento mais pessoal e íntimo do disco, trazendo um acorde profundo de piano que evolui conforme o músico traz mais de si para a composição.
Maré Rasa traz a experiência de remontar uma mente reflexiva em acordes, sintetizadores e vocais ecoantes, e é justamente aí que somos pêgos de surpresa. MASM nos entrega um disco curioso que pode ser o ponto de partida para interessantes caminhos para o produtor. É um disco quieto, mas que representa a dimensão de nossa memória, plantando referências distintas e sensações vívidas. A “maré rasa” parece ser apenas o primeiro passo de Matheus por toda a imensidão do mar introspectivo.
(Maré Rasa em uma faixa: Caça)
