Resenhas

Goat – Requiem

Resgate da World Music espana os ares preconceituosos de outrora

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Ano: 2016
Selo: Sub Pop
# Faixas: 13
Estilos: World Music, Psicodelia
Duração: 63
Nota: 4.0

Goat é uma banda de mascarados misteriosos que, segundo eles mesmos, é originária de uma cidadezinha de 500 habitantes ao norte da Suécia chamada Korpilombolo. Suas máscaras, assim como a vibe ritualística de sua música, vem por conta da tradição vodu do povoado. Essa é uma história que, embora extremamente improvável, cativa por sua verossimilhança. Pouco importa a origem provinciana de seus integrantes, assim como pouco importa a ligação da aldeia da europa setentrional com uma religião de matrizes africanas: o que interessa aqui é a sensação mágica provocada pelo mistério.

Requiem é um trabalho que continua na mesma linha de seus antecessores e faz um resgate contemporâneo da World Music. Esse estilo, nascido na década de 90 cheio de boas intenções, exibia uma visão preconceituosa da cultura, ao considerar o mundo não-ocidental como exótico, e provavelmente povoado por tribos “primitivas”. Em Goat, no entanto, isso muda de aspecto. Não só a própria banda vive como uma espécie de sociedade nômade, na qual integrantes vêm e vão com liberdade, como suas músicas, criadas majoritariamente em improvisos coletivos, refletem uma paleta democrática de timbres, estilos, humores e sensações.

Entretanto, por mais plural que seja, Requiem tem uma cara definida: enquanto a aura hippie da World Music define o cenário geral, a psicodelia do rock dos anos 60, o transe do Afrobeat e o groove do Funk delimitam seus contornos.

Requiem, tanto seu próprio título – como pode um luto ser feliz? – quanto em sua música vívida, descalcificam nossos ouvidos e nossos valores cansados da mesmice cultural. Um álbum duplo, que, apesar de sua dimensão, soa refrescante, diz muito sobre aqueles que o compuseram. Sendo sua história verídica ou não.

(Requiem em uma música: Try My Robe)

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Autor:

é músico e escreve sobre arte