Resenhas

Flock of Dimes – If You See Me, Say Yes

Projeto paralelo de Jenn Wasner derrapa na monotonia Synthpop

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Ano: 2016
Selo: Partisan
# Faixas: 12
Estilos: Dream Pop, Pop Alternativo, Synthpop
Duração: 44:31
Nota: 3.0
Produção: Jenn Wasner

Flock Of Dimes é o projeto solo e Dreampop de Jenn Wasner, do simpático duo Wye Oak, que ela mantém com Andy Stack. Apesar de existir desde o início dos anos 2010, somente agora, especialmente devido a compromissos da banda principal, seja por shows, seja por disco, que Wasner consegue soltar o primeiro álbum de seu projeto paralelo. If You Say Me, Say Yes é um típico disco “alternativo” de Pop nestes nossos tempos: feito e gravado em pequenos estúdios ou em casa, cheio de canções simpáticas que oscilam e orbitam os terrenos do Synthpop e de suas variantes esparsas e/ou obscuras, com muitas composições outonais, mas com os dois pés fincados nas lições aprendidas nos anos 1980. Talvez seja reflexo da nossa época esta elipse temporal em relação a chamada “década perdida”, mas é um fato.

O timbre de voz de Jenn é acolhedor, suas composições são espertas o bastante para comportar interpretação catártica quando é necessário, conferindo um “fator Florence” para a moça, algo que pode ser bom para uma significativa faixa do público. O problema – pequeno – é que há pouca criatividade nos arranjos e na apropriação do tal Synthpop, este tipo de Pop que deveria ter mais opções e influências, resvalando quase sempre para sonoridades monótonas. Também há alguma influência de cantoras dos anos 1970, especialmente Stevie Nicks, seja em sua carreira solo, seja em sua banda, a célebre Fleetwood Mac, tudo devidamente subentendido e processado por camadas de sintetizadores de todos os tipos.

Tal apreço excessivo aos timbres mais sintéticos dá um tom repetitivo ao longo do álbum. As canções têm arranjos que sempre começam com alguma tentativa de criar climas aqui e ali, engatam numa progressão de acordes martelados nos teclados, os refrãos mal existem ou são marcantes o suficientes, dando uma impressão incômoda de estarmos diante de um jogo de espelhos, muito além da tal identidade musical, resvalando para a falta de personalidade. Há exceções, claro. A primeira, positiva, é a belezura Pop que surge logo como terceira faixa, The Joke. Há guitarras, há um fiapo de bateria eletrônica e um clima que é puro início de década de 1980, com melodia solar que dá ensejo a um passeio no parque depois que a chuva passa e o sol se insinua através das nuvens em processo avançado de dissipação.

Everything Is Happening Today também é um bom exemplo de como o talento de composição de Jenn pode ser melhor aproveitado. Há a ambiência eletrônica, mas ela está a serviço do arranjo, da própria canção, surgindo como ferramenta e não como meio exclusivo de expressão musical. Os floreios vocais da moça vão alto, lembrando bastante alguns momentos de Florence Welch. O mesmo modelo de arranjo/composição surge com Given/Electric Life, em que guitarras harmoniosas fazem a cama para os teclados surgirem mais elegantes do que na maioria esmagadora do álbum. Há um belo trabalho vocal por aqui também, tanto nos backings como no principal, mostrando a versatilidade da moça. Aparition talvez seja o melhor uso de sintetizadores ao longo das 12 faixas, aproveitando timbres soturnos e cinzentos pra erguer uma parede de concreto envelhecido ao redor da voz de Jenn, conferindo mistério e claustrofobia em doses adequadas.

Flock Of Dimes tem predicados e boas intenções. Precisa, no entanto, de mais personalidade e promover a valorização das composições através de arranjos mais diversificados ou, melhor dizendo, que usem a eletrônica como mais uma ferramenta no estúdio, sem depositar nela toda a responsabilidade pelo êxito da faixa. Se Jenn Wasner levar isso em conta, pode vir com um bom álbum da próxima vez. Por enquanto, fica no meio do caminho.

(If You See Me, Say Yes em uma música: The Joke)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.