Resenhas

Pixies – Head Carrier

Sexto disco do quarteto traz alguma esperança na retomada de referências passadas

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Ano: 2016
Selo: PIAS, Pixiesmusic
# Faixas: 12
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock, Pop Rock
Duração: 33:48
Nota: 3.0
Produção: Tom Dalgety

Pixies carrega um fardo consigo. Com dois discos extremamente importantes para o desenvolvimento do Rock Alternativo como o conhecemos, o quarteto tem uma sombra grande para tentar se afastar e dois eternos itens de comparação para qualquer lançamento que seja feito. Após a saída da baixista Kim Deal, foi possível sentir uma abrupta mudança em sua sonoridade. As boas letras de Black Francis ainda estavam lá, mas as coisas haviam mudado e Indie Cindy nos fez provar isso de uma forma insossa e batida. Se afastando daquela sonoridade Lo-fi e se apegando a riffs mais roqueiros de guitarra, o grupo encara uma nova missão ao lançar seu sexto disco, uma marca louvável para uma banda que superou um sombrio hiato e a perda de uma integrante chave. Assim, chegamos a Head Carrier, um disco que traz consigo um olhar um pouco mais crítico sobre o passado.

Neste registro, o primeiro de estúdio com a nova baixista Paz Lenchantin, temos um Pixies consciente de seus feitos e que seleciona de uma forma mais bem pensada aquilo que traz como nostalgia e inovação. É difícil pensar na sonoridade do grupo fora da estética dos anos 1990 e, talvez por isso, os novos trabalhos soem tão difíceis aos ouvidos dos fãs mais assíduos. De qualquer forma, o grupo tenta preencher este trabalho com mixagens mais modernas, mais comprimidas e menos Lo-fi, desviando de uma possível síndrome de Peter Pan e criando lugares além da Terra do Nunca para voar. As faixas contém diversas referências, desde o Indie Rock mais cru possível, passando por aquela persistente e controversa sonoridade Hard Rock, até chegar a alguns indícios do Psychobilly. Ao mesmo tempo que é um disco que traz desafios, revela tentativas madura de lidar com sua história.

Head Carrier abre o disco nos desorientando entre referências de um Sonic Youth mais leve, com melodias à la R.E.M. Baal’s Back é mais violenta, fazendo Black Francis incorporar o famoso demônio em gritos que lembram hinos de Doolittle, mas dão um passo à frente, ainda que soem como AC/DC. Oona é uma ponte mais concreta à melodia ruidosa de Surfer Rosa, mas que ainda está longe de trazer o surrealismo e a crítica ácida do clássico. Tenement Song dosa os dissonantes riffs de guitarra, uma melodia pegajosa tal qual a de Here Comes Your Man e um peso proveniente de guitarra estridentes nas frequências médias. A prova mais concreta de que Pixies ainda olha firme para o passado está em All I Think About Now, que traz uma releitura do famoso riff de Where Is My Mind?. Por fim, All The Saints suaviza os ouvidos com uma balada doce mas que ainda traz aquela esquisitice pixeana firme e forte.

Assim, Pixies traz um disco mais pensado em meio a uma discografia que parecia declinar. Está longe de ser um clássico, mas traz um valor intrínseco justamente pelas referências que respeita e leva a novos caminhos. Uma faísca um pouco mais esperançosa para aqueles que ainda acreditavam no Pixies do passado. Que não seja passageiro.

(Head Carrier em uma faixa: All I Think About You)

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BOM PARA QUEM OUVE: Sonic Youth, Superchunk, Wavves
ARTISTA: Pixies

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique