Resenhas

Solange – A Seat at the Table

Dinâmico, relevante e sempre muito agradável, disco mostra-se um dos melhores de sua época

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Ano: 2016
Selo: Columbia/Sony
# Faixas: 21
Estilos: Neo Soul R&B, Alt R&B
Duração: 51'
Nota: 5.0

A percepção do tempo e de sua passagem sempre foi um dos temas mais subjetivos da humanidade, visto que cada indivíduo, ainda que dentro do mesmo calendário, parece viver seu próprio cronograma. Essa questão é trazida à tona quando ouvimos A Seat at the Table, disco cuja temporalidade pode ser observada com curiosidade à medida em que desfrutamos de sua estonteante musicalidade.

Ele saiu oito anos após Sol-Angel and the Hadley St. Dreams, o segundo de Solange, e foi anunciado dois dias antes de seu lançamento – dois períodos bastante diferentes do que na grande maioria das carreiras que acompanhamos. Ele chegou também com 51 minutos de duração distribuído entre 21 faixas, sendo metade delas interlúdios.

E a história começa a ficar mais interessante agora: Com uma narrativa específica por músicas que emendam-se umas às outras, o álbum não parece durar mais do que a média de 30 a 45 minutos, e consegue fazer isso por faixas bastante coesas (para não dizer “parecidas”), estratégia oposta ao que sua irmã Beyoncé fez em Lemonade, embora ambos tragam a mesma temática.

As participações e parcerias acabam sendo o maior diferencial de cada uma das músicas. Sampha, Lil Wayne, Kelela, Kelly Rowland e BJ The Chicago Kid são alguns dos que colaboram em A Seat at the Table, cujos versos e interlúdios comentam o racismo, um tema (infelizmente) atual que encontra a mesma contemporaneidade na estética empregada no disco, de um aspecto mais próximo ao chamado “minimalismo” que o Pop encontrou nos últimos anos a um aspecto Eletrônico que não ignora sua herança e nostalgia.

A curtinha Rise, lançada como apoio a vítimas de racismo, inicia o repertório de maneira melancólica e esperançosa e dá lugar de maneira natural a Weary, com seus vocais multiplicados, baixo sempre presente e percussão que encontra o equilíbrio entre a força e a discrição. Cranes in the Sky e Don’t Touch My Hair vêm como os grandes candidatos a “hit” do álbum, enquanto Mad (com Lil Wayne), Don’t Wish Me Well e Where Do We Go devem encontrar um lugar especial no carinho do público que já acompanha a cantora desde, ou mesmo antes de, o EP True.

Forma e conteúdo convergem em uma obra que exemplifica muito do que é feito, e do que é melhor, em sua época, cumprindo com excelência todos os seus propósitos – seja o de levar a mensagem contra o racismo, o de envolver o ouvinte com uma ambientação sempre densa e de altíssima qualidade de produção, ou mesmo de meramente entreter com belíssimas faixas, na expressão mais Pop do que é “curtir música”.

Só o tempo revela os trabalhos que se tornam ícones, os tais “clássicos”. Porém, uma primeira audição atenta a A Seat at the Table deduz imediatamente o palpite de que Solange acaba de nos entregar, de maneira relevante, dinâmica e plenamente agradável, uma verdadeira obra prima.

(A Seat at the Table em uma música: Don’t Touch My Hair)

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BOM PARA QUEM OUVE: Nao, FKA Twigs, Yuna
ARTISTA: Solange
MARCADORES: Alt-R&B, Neo Soul, Ouça, R&B

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.