Resenhas

Four Tet – Pink

O projeto sai de sua zona de conforto e propõe uma linha mais eletrônica de tudo que o produtor britânico Kieran Hebden já produziu

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Ano: 2012
Selo: Text Records
# Faixas: 8
Estilos: House, Techno, Jazz
Duração: 59:41
Nota: 4.0
Produção: Kieran Hebden

Sem muito barulho, foi lançado, na semana passada, Pink, novo álbum do famoso projeto Four Tet. O disco é uma compilação dos últimos singles em vinil que o projeto soltou mostrando um lado diferente do Four Tet que conhecíamos, como uma cara a tapa que Kieran Hebden se propõe e acerta. Sabemos, também, que Four Tet nunca foi um ícone de faixas direcionadas à uma pista de dança. Pink, por sua vez, abraçou o o Club e o House – do qual, nos últimos álbuns do projeto, só se via longas faixas de cunho denso. Quem se propõe a entrar no mundo de suas oito faixas está disposto a ter uma viagem de quase 60 minutos mais psicodélica que o de costume.

Logo de antemão, temos Locked. Coração do álbum, mostra sua proposta e a que Pink veio. Minutos de muita bateria, guitarras distorcidas e loops de synths delicados que te transportam pra uma viagem de sutileza com força de uma percussão marcada. Uma das faixas inéditas, Lion mostra uma percussão Funky em 4/4 que se sustenta a partir de loops chatos de sintetizadores sombrios. Uma tentativa falha. Já Jupiter, diferente do que a maioria dos fãs e críticos achou, é a faixa-tesouro de Pink, e não Locked. Consiste em uma faixa com uma típica batida 2-step e uma linha de baixo sombria até os primeiros minutos. Depois da metade, a faixa progride para um House-dub com cortes de vocal e um show de percussão mais pro final. Mais uma faixa que se encerra mostrando a capacidade de Four Tet de segurar uma pista. Com a mesma justaposição de Jupiter, temos Pyramid. Uma faixa que se inicia de forma densa, viaja ao ponto de conter pitadas de House aqui e uma base de Electro Funky ali, com vocais mais incisivos (com vibe Daft Punk) apontando pra uma pista facilmente acostumada pelas batidas menos agressivas.

Em Piece for Earth temos o convite de 11 minutos em uma viagem sem fim no som mais minimalista possível, com sintetizadores em sequência, trazendo uma experiência morna e aconchegante. Uma faixa hipnotizante, na qual fechar o olhos e sentir a sinestesia é quase que inevitável. 128 Harps é uma ode ao instrumento que propõe uma viagem nebulosa em sintetizadores e alguns poucos cortes de vocal onde parece que a música transporta pra um próprio território, bem longe de tudo o que já passou anteriormente. Ocoras ganha pela simplicidade. Uma base hipnótica de Techno sem nenhum impulso maior de tornar uma faixa direcionada à nenhuma pista ou atmosfera Club. Pinaccles tem uma base em loop bem morna com chocalhos e piano, chegando a ter espasmos ótimos com Jazz. Mas são só espamos, infelizmente.

Pink mostra uma nova fase do Four Tet. Poderia facilmente ser uma compilação do projeto para ser usado em pistas. Obviamente que isso tudo é possível funcionar depois de se analisar e entender a proposta que tiveram seus últimos álbuns: faixas de longa duração, com mistura de instrumentos e elementos que transbordam densidade e sinestesia. E com o disco, a ideia não muda: temos faixas de 8 a 11 minutos que provam isso e mostram as diferentes facetas que podemos ter com o Techno, Groove e o Eletrônico. Não se sabe se foi uma jogada de marketing ao ver que o eletrônico está em ascendente crescimento ou se uma forma de mostrar habilidade ao que está sendo feito e botando produtores em alta. E isso é fato: Hebden mostra uma versatibilidade enorme, provando uma habilidade invejável em pular de gênero em gênero, passando pelo Jazz, pelo House, Techno, sem, nunca, perder sua identidade. No resultado, temos uma obra completa e audaciosa, compra briga do que seria uma missão quase que improvável que desse certo. Como se o The xx se propusesse a brincar com as batidas de Skream. Aqui isso é feito. Pink mantém elementos que construíram o Four Tet e que mostra que tudo pode ser reciclado com a mesma qualidade que botou o projeto como um dos mais interessantes desde 2009.

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BOM PARA QUEM OUVE: Joy O, Flying Lotus, Disclosure
ARTISTA: Four Tet
MARCADORES: House, Jazz, Techno

Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King