Resenhas

Mr. Oizo – All Wet

Projeto de diretor francês tenta equilibrar Eletrônica, música pra dançar e experimentalismo

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Ano: 2016
Selo: Because Music
# Faixas: 15
Estilos: Eletrônica, Eletrônica Experimental, Dance Alternativo
Duração: 34:23
Nota: 3.0
Produção: Quentin Dupieux

All Wet é o oitavo álbum da carreira de Mr.Oizo, alterego do diretor francês Quentin Dupieux. O sujeito, ali pelo fim do século passado, resolveu sonorizar um vídeo para certo comercial de uma marca de jeans. O sucesso foi tão grande que ele se viu compelido a assumir esta persona musical e iniciar uma carreira, se aventurando pelo terreno que surge da intersecção entre a música Eletrônica e a a doideira Pop pura e simples. O foco desta loucura é a música dançante que surge de experimentos caseiros, feitos num cafofo qualquer, no meio da urbe. Influências mil surgem e vêm somar-se ao caldeirão, as mais evidentes sendo Beastie Boys, especialmente em seu segundo disco, o histórico Paul’s Boutique (1988) e Beck, principalmente a partir de seu álbum Mellow Gold (1994). Em ambos os casos, estes artistas fizeram incursões profundas no estúdio e na cultura de discos, pegando trechos, sampleando, experimentando e criando novas obras a partir daí, numa espécie de reciclagem, um procedimento que foi banalizado nos anos 1990 e 00.

O trabalho de Oizo é, justamente, fruto desta banalização. Certo, você pode chamar de democratização ou algo assim, mas suas experiências e – especialmente – resultados são inferiores. Em primeiro lugar, ele vê mais valor no ato de desconstruir e reduzir estruturas, batidas, melodias, depurando-as ao máximo, fazendo-as soar como fragmentos, fiapos, arremedos. Depois mistura tudo, subverte e refaz pequenos frankensteins sonoros, supostamente tendo a pista de dança como destino final de suas criações. A impressão que dá é que os resultados ficam na intenção, no “quase” e isso fere os ouvidos do articulista, especialmente aquele que tem especial apreço pela melodia e pelas estruturas formais. Não é ser careta, só pensar no que é mais essencial: ferramenta ou objeto. Oizo prioriza a ferramenta, o uso da eletrônica e não controla sua sanha depuradora.

Em meio a um número alto de faixas (15), todas com duração pequena/média, Oizo constrói um painel amalucado, remixante e experimental. Chama convidados como Charli XCX, Peaches e Skrillex, que se esforçam em suas participações, Hand In The Fire, Freezing Out e End Of The World, respectivamente. Nenhuma delas soa inesquecível, justamente pela excessiva frouxidão das molduras sonoras, causando a impressão que os convidados soam meio subaproveitados. E surgem umas vinhetas chatas com pinta de beats soltos, que foram juntados às pressas, caso de Oiseaux, que pouco acrescentam no resultado final. Paradoxalmente, uma delas, No Tony, de pouco menos de 1:30 minutos, constitui o melhor momento do álbum, especialmente pelo bom uso do sampler, apresentando o grupo italiano Phra, um nome para guardar.

Os cinco minutos finais do álbum são divididos em duas faixas e uma vinheta. Low Ink, de dois minutos, oscila groove de samples intencionalmente tocos com teclados; Goulag Drums, com ótimo título, é uma batucada cyber de bom gosto e eficiência comprovada, mas padece daquela aura de rascunho, o que atrapalha um pouco sua apreciação. O minuto final é de Useless, basicamente um exercício de baixo/bateria com vocais robóticos, como se estivéssemos em algum ponto de 1982/3.

Talvez este novo álbum de Mr. Oizo seja mais indicado para o consumo num ambiente em que a gente “presta atenção sem prestar atenção” na música. Balada, pista de dança, algo no gênero. A apreciação com mais cautela e/ou dedicação revela uma colagem abstrata demais para sobreviver a uma análise mais séria. Fora esse detalhe, é pra dançar e não levar a sério, o que, convenhamos, não é ruim.

(All Wet em uma música: No Tony)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.