É fácil nomear uma obra como um exercício de estilo, deixando poucas palavras definirem de maneira absoluta o que o artista fez como uma maneira de rápida compreensão do público. Pois bem, Pineal será, muito provavelmente, reduzido a “disco de Psicodelia” por muitos, embora ofereça muito mais conteúdo do que a preguiçosa correlação.
Tagore soube investir em belas composições que chegam, sim, como manda a cartilha dessa estética de maneira primorosa, fazendo o álbum merecer o status de “referência” do estilo hoje em dia ao lado de nomes como Boogarins ou Tame Impala – referenciada diretamente em Apocalipse Jeans (lembra de Apocalypse Dreams?).
Para além das distorções, modulações e reverbs, a voz de Tagore Suassuna nunca esteve tão bem ao conduzir suas canções, que, ainda que embaixo de um mesmo leque estético muito bem definido, apresentam personalidade própria em letra, clima e pequenas surpresas (como o vocal em primeiro plano em Ilha Yoshimi ou a instrumental Space Jazz) que garantem um dinamismo constante ao longo do disco.
A sequência de músicas flui muito bem, com algumas mais agitadinhas (como Camelo e Mar Alado) acompanhando as candidatas a hit (a faixa-título e Mudo, principalmente), passando por momentos introspectivos (Reflexo, Granada) e pequenas pérolas psicodélicas do calibre de Concha e Dr. Monday, tudo sabendo aproveitar o sotaque do vocalista em um jeito bem brasileiro de se harmonizar, herança de nomes como Os Mutantes e Clube da Esquina.
É tudo de uma qualidade e de uma beleza altas o suficiente para que o ouvinte viaje para muito além dos lugares comuns dessa estética. Um grande acerto que deve impulsionar Tagore como um dos nomes mais legais deste movimento.
(Pineal em uma música: Mar Alado)