Não é difícil identificar a vontade de fazer música que alguns discos trazem. “Fazer música”, não necessariamente “fazer sucesso” como o pensamento que a indústria estabeleceu há algumas décadas gostaria de ditar – embora Quarup provavelmente não se incomodaria com a fama, visto que seu primeiro clipe apostou na hype do grupo Carreta Furacão. O que seu primeiro álbum traz, entretanto, é um exercício de ressignificação dos sons que nós, brasileiros, ouvimos desde que nascemos dentro do que é conhecido por MPB, algo que tem acontecido com frequência no meio que entendemos como Indie.
Nos primeiros segundos de O Mensageiro, a faixa de abertura, já entendemos que Quarup seguirá por um caminho estabelecido há muito tempo por nomes como Novos Baianos – aquilo que sabe ser popular sem deixar de lado a liberdade criativa de harmonias dissonantes em faixas marcadas por momentos muito bem definidos. Nesse espírito, o grupo revela sua capacidade de criar melodias de grande beleza executadas por timbres bem escolhidos e pela voz carismática de Guta Batalha, indiscutível protagonista da obra.
Em seu impulso de poder colocar no mundo a reunião de todas as suas melhores qualidades, a banda revela uma confiança muito grande em seus pontos mais altos e acabou por realizar algumas escolhas que acabaram por ser cansativas na audição do álbum inteiro, seja a longa duração de algumas das faixas ou o quanto as músicas parecem apoiar-se demais na vocalista, além de uma linearidade muito definida no exercício de suas referências, o que faz com que o disco soe tão familiar quanto repetitivo ao longo de sua extensão.
Para alguns ouvidos, essas escolhas prejudicarão a fruição de momentos tão interessantes como Homem-Rã ou Baleiro – duas músicas muito diferentes entre si que revelam o potencial que Quarup possui. Entre algumas escolhas de produção muito bem vindas, como diferenças de volume e preenchimento de som entre as faixas, o ouvinte termina a audição certo tanto do quanto o disco foi bonito, quanto foi cansativo. O que fala mais alto, porém, é o coração do grupo estar no lugar certo, aquela vontade de fazer boa música que, com o tempo e a maturidade, Quarup aperfeiçoará em forma de registros de pontos ainda mais altos.
(Quarup em uma música: O Pântano do Céu)