Resenhas

The Radio Dept – Running Out of Love

Politizado, quarto disco de suecos é uma mensagem de ternura em tempos de cólera

Loading

Ano: 2016
Selo: Labrador
# Faixas: 10
Estilos: Dream Pop, Eletrônica
Duração: 44:50
Nota: 4.0
Produção: The Radio Dept

The Radio Dept sempre trouxe um conforto latente – a voz delicada e, muitas vezes distante, de Johan Duncanson é uma cama que procura abraçar o ouvinte em seus momentos de maior dificuldade. Como um café quentinho em uma manhã fria, o grupo sueco nos fez sonhar ao longo obras consistentes e que tem, entre si, alguns dos melhores momentos do Dream Pop já gravados. Running Out Of Love traz os nórdicos em formato diminuto ao transformarem-se em duo e, mesmo após seis anos do ótimo Clinging to a Scheme, mostra que suas composições são ainda mais necessárias.

Gêneros não são feitos para todos os gostos, no entanto, a eterna nostalgia propagada pelos suecos trazem afeto até aos mais incrédulos. Por trás de melodias e faixas extremamente harmoniosas, Running Out Of Love revela imediatismo lírico ao se mostrar uma obra politizada – a doce voz velada de Johan despeja verdades sobre o atual estado político da Suécia. Não precisamos ir para muito longe para entender quais são as forças de disputa em jogo aqui: crescimento de uma direita cada vez mais fascista e a disparidade econômica facilmente visualizada em pirâmides.

Enquanto Swedish Guns, espécie de Dub eletrônico oitentista, explicita a indústria bélica sueca, Occupied traz um House desacelerado sobre a ocupação de grandes cidades por meios gananciosos. As espinhas que o duo tenta expor aqui são na verdade, metáforas facilmente aplicadas sobre nosso cotidiano em que a briga por espaço e justiça na maioria dos países se dá a partir de diferenças econômicas tão desbalanceadas.

É curioso pensar que temas tão complexos são passados como fragmentos oníricos através de composições que finalmente aproximam The Radio Dept à música Eletrônica. Arranjos programados e usos de samples – como da abertura de Twin Peaks em Occupied, são percebidos e colocam o duo em função louvável. Suas faixas criam sensibilidade social e, ao mesmo tempo, fazem o ouvinte dançar, como na deliciosa balada This Thing Was Bound To Happen ou na ácida (com toques de Screamadelica), Commited To The Cause – de longe, a melhor faixa da obra.

Cada canção parece ter sido cuidadosamente criada para impactar o ouvinte de diferentes maneiras – a escolha de títulos é precisa, Thieves of State, Teach Me To Forget e Running Out of Love são exemplos urgentes e autoexplicativos e surpreendem por simplesmente trazerem verdades e sensações através de seus nomes. Seu impacto, por fim, traz o mesmo efeito que os suecos sempre causaram inevitavelmente: o conforto melancólico que, muitas vezes, só a música consegue trazer. Tal mensagem pode ser vista na abertura, Slobada Narodu faixa oitentista em sua abordagem World Music e que pede rapidez e liberdade enquanto soa musicalmente pacificadora – “Don’t ask for patience/ Cause we just don’t have the time/ Freedom now”. Tal limbo, tão difícil de ser conciliado em tempos coléricos, pode ser considerado o grande mérito do quarto disco do duo: saber se expressar com ternura.

(Running Out Of Love em uma música: Commited To The Cause)

Loading

BOM PARA QUEM OUVE: Beach House, SILVA, Toro y Moi

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.