Resenhas

The Pop Group – Honeymoon On Mars

Grupo inglês faz música engajada sobre problemas do mundo

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Ano: 2016
Selo: Freaks R Us
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Pós-Punk, Punk Experimental
Duração: 59:46
Nota: 3.0
Produção: Dennis Bovell, Hank Shocklee

É possível fazer música desconfortável? Aquelas canções que vão te deixar meio nervoso/a/x, sem saber o que fazer porque vão te despertar algumas verdades? Ou aquelas músicas que não se sentem obrigadas a soar melodicamente bonitas, harmoniosas…Seja o que for este conceito que – acho – inventei sem querer, o veterano The Pop Group navega comodamente nele. Honeymoon On Mars tem dez faixas invocadas e minimalistas sobre um monte de coisas erradas que acontecem em nossa bolota azul e branca. O diferencial está na atitude e no revestimento instrumental que está presente por todos os cantos do álbum, completamente descomprometido daquela coisa de “soar agradavel” aos ouvidos. O negócio aqui é outro.

Não pense que estamos falando de uma banda militante duma das variações extremas do Metal ou Hardcore. Tampouco é uma dessas formações cabeçudas, que abrem mão de uma visão estética convencional para chocar apenas para ver a cara das pessoas. O lance aqui é cutucar as pessoas e falar de coisas do cotidiano, se valendo daquela tal atitude inquisitiva que o Rock deveria ter com um pouco mais de frequência. Formado em fins dos anos 1970, na cidade de Bristol, o grupo lançou dois álbuns em sua primeira fase, que durou poucos anos, em meio ao boom de formações Pós-Punk do início dos anos 1980. Numa onda muito mais próxima de gente como PIL e Talking Heads do que de The Cure e Echo & The Bunnymen, o grupo retomou atividades em 2010, pouco menos de 30 anos após encerrar atividades e lança agora o segundo álbum desta nova fase. O motivo do fim? Decepção com a vitória de Margaret Thatcher em 1980.

A sonoridade e os temas não mudaram. A produção da dupla Dennis Bovell e Hank Shocklee, dois veteranos da fusão da fúria guitarreira do Punk com elementos eletrônicos, Funk e Hip Hop, confere uma estranha sensação de modernidade datada às canções. Tudo soa como nos anos 1980, porém, tais fusões e derivações ainda são muito avançadas e foram resignificadas por gente de hoje, especialmente TV On The Radio e seus filhotes. Três quintos da formação original estão presentes: o baterista Bruce Smith, o vocalista, guitarrista e tecladista Gareth Sager e o baixista Dan Catsis.

Os temas ainda estão por aí. As canções de The Pop Group seguem fustigando as injustiças tentando falar para ouvintes novos o que os que acompanham a banda desde sua fundação já sabem. War Inc. critica a presença banalizada da guerra no cotidiano das pessoas. E como isso, numa lógica neoliberal, tornou-se um negócio, através da terceirização de exércitos, algo que começou nos anos 1990. Pure Ones fala sobre aparências e exigências hipócritas da sociedade, que concede superficialidades em troca, num jogo de cena endossado por mídia e públicos sem senso crítico. Heaven?, que tem instrumental caótico e eletrônico na medida certa, cutuca a apatia das pessoas, que se contentam em viver numa realidade pobre, com migalhas, mostrando-se incapazes de exigir mais. O fecho do disco chega com a incandescente Burn Your Flag, que tem batidas marciais e clima opressor, sugerindo distopias e falta de fé no futuro, que parece ter chegado e não é nada do que esperávamos.

The Pop Group não tem qualquer pretensão de soar bonitinho. Sua visão musical passa pela ideia de causar reações no ouvinte, chamá-lo a pensar, refletir e entender o que pode estar acontecendo num mundo cada vez mais acelerado e superficial. É música engajada, invocada, artística e literal.

(Honeymoon On Mars em uma música: Burn Your Flag)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.