Resenhas

Rael – Coisas do Meu Imaginário

Rapper dialoga com várias referências da MPB de ontem e de hoje para propagar sua mensagem

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Ano: 2016
Selo: Laboratório Fantasma/Natura Musical
# Faixas: 11
Estilos: Rap, MPB
Duração: 39'
Nota: 3.0
Produção: Daniel Ganjaman

Existe um som muito brasileiro, muito referencial da produção feita por aqui nas últimas décadas, que mistura melodias Pop com uma pegada um tanto roqueira e uma forte influência do Reggae, talvez pelo quanto nosso cenário tropical combina com o caribenho, talvez porque as culturas do Brasil e da Jamaica dividam uma mesma raíz africana. E é interessante notar como o Rap abraçou essa sonoridade – ou, mais do que isso, como ele consegue criar algo bem mais interessante dentro dessa estética do que o tal Pop Rock, tão abraçado pelo mainstream, realiza.

Criolo e Emicida são dois que já aproveitaram desse clima, migrando de um referencial plenamente Rap para um terreno chamado “MPB”, e Rael assume ainda mais esse diálogo com seu Coisas do Meu Imaginário, um daqueles discos que trazem sonoridades bastante familiares a qualquer um que nasceu e cresceu no Brasil durante essas últimas décadas.

O single Rouxinol adiantava essa musicalidade em seu lançamento, e o disco continua seu espírito por faixas como Papo Reto (com Daniel Yeroubá e Black Alien), Aurora Boreal e Livro de Faces, enquanto Estrada e Do Jeito trabalham o Rap em um terreno mais convencional, aproximado do Hip Hop.

Duas das melhores músicas do álbum, se não forem as melhores mesmo, apontam para lados mais contemporâneos, algo mais próximo do Pós-MPB por fazer uma mistura ainda maior e brincar com a nostalgia em uma estética muito própria da produção brasileira de hoje em dia: De Amor e Descomunal. Ambas são aquelas faixas que devem entrar em diversas playlists que exemplificam o som feito por aqui agora, sem que destoem de maneira alguma das demais na obra – tudo sob a benção de Daniel Ganjaman, um dos produtores de maior destaque nesta década naquilo que é brasileiro e contemporâneo.

Se o som parece puxar referências de até 40 anos atrás, os versos sabem ser bastante atuais, seguindo o manual do Rap que denuncia e dá voz, seja a um povo ou a uma ideia. No caso, Rael optou por vocalizar seus pensamentos e críticas sociais e culturais ao citar desde intolerância religiosa até o quanto são vazias as relações em uma era digital.

Com um som sempre volumoso para carregar seus timbres límpidos, Coisas do meu Imaginário celebra a variedade musical e dialoga com vários Brasil ao mesmo tempo. Rael conseguiu, mais uma vez, desenvolver uma sonoridade que parece misturar suas referências naturalmente e, dessa forma, levar sua mensagem mais longe.

(Coisas do meu Imaginário em uma música: Aurora Boreal)

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BOM PARA QUEM OUVE: Fióti, Emicida, Criolo
ARTISTA: Rael
MARCADORES: MPB, Rap

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.