Resenhas

Terno Rei – Essa Noite Bateu Com Um Sonho

Segundo disco do quinteto paulistano é uma experiência de auto-investigação onírica.

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Ano: 2016
Selo: Balaclava Records
# Faixas: 12
Estilos: Dream Pop, Psicodelia, Shoegaze
Duração: 44:00
Nota: 4.5
Produção: Guilherme Chiappetta

Para que serve um sonho? Usado muito como recurso de análises psicológicas, é fato que muito pode se aprender ao observar a natureza e as percepções que criamos ao experienciá-los durante nosso sono. Conseguimos traçar tendências, mapear inspirações, criar insights e descobrir muito de nós mesmos. Mas porque nos foi dada esta capacidade? Seria um mero acaso da evolução ou realmente há um propósito maior? Estas são algumas perguntas que não conseguiram deixar os integrantes da banda Terno Rei sossegados e a busca por respostas os levou a um intenso exercício de reflexão e admiração com seus respectivos imaginários. Adeptos de uma sonoridade onírica desde seu primeiro e celeste disco Vigília, os paulistanos agora praticam uma dinâmica mais profunda em direção à auto-investigação, trazendo a tona um fantástico e mágico registro.

Essa Noite Bateu Com Um Sonho é um registro imersivo, no sentido mais sensorial que isto possa ter. Com novas metas em mente, o grupo arrisca trazer arranjos mais suaves do que o disco passado, seguindo uma linha mais parecida com seu EP, Trem Leva Minhas Pernas. Texturas macias envolvem os vocais de Ale Sater, envolto em muito reverb, porém de uma forma não tão intensa quanto no Shoegaze “Slowdiveano”. Junto com estas inovações instrumentais, o disco parece ser uma tênue linha entre o lógico e o subconsciente. É como se eles estivessem dispostos a analisar seus sonhos e as paisagens que construíram com um mínimo de pensamento crítico, mas deixando se envolver em um nível saudável para que possam compreender a experiência e o sentido de seus sonhos. A produção do trabalho faz com que as faixas sejam feitas da mesma matéria prima onírica, mas os sentidos produzidos são bastante diferentes.

O single Sinais nos abre um mundo de possibilidades infinitas, onde o sol da meia-noite paira sobre o horizonte e a “esquina do tempo voa”. Criança traz a nostalgia em evidência, narrando cenas de infância em uma tentativa de capturar esse instante que já foi, afinal, “as coisas que eu perdi, nunca voltam”. Circulares é uma viagem de barco por um mar de memórias e pensamentos em “movimentos simultâneos e circulares” e que capturam a instabilidade de uma mente ansiosa, mesmo que se use de um arranjo suave para ilustrar isso. Para O Centro, por sua vez, é mais introspectiva e séria, se adentrando mais ainda nas camadas subconscientes de seu respectivo sonhador.

Olha Você pode ser encarada de duas formas: tanto como o sonhador olhando a pessoa amada ou se olhando, encarando e analisando suas próprias feições. Chegadas e Partidas traz um tom de saudade, mas de autocrítica, com frases marcantes como “preciso de uma vez largar dessa mania de ser o mais frágil”. Por fim, Desconhecido, revela o fim desta jornada densa, na qual o narrador por vezes confunde os protagonistas de seus sonhos com ele mesmo, repetindo por vezes “eu era ele, ou era eu mesmo desde o começo”.

O novo disco de Terno Rei é uma jornada que descobre o sentido de sonhar: a autoinvestigação, cheia de surpresas e constante em nosso viver. Assim como no terceiro filme da saga Hora Do Pesadelo, a banda assume o papel de Guerreiros Do Sonho, explorando a matéria prima desta experiência e atento aos perigos surpreendentes. Um disco extremamente sensível e que traz significados menos estereotipados do Dream Pop, ao mesmo tempo que traz novos questionamentos. Um disco para se viver dentro.

(Essa Noite Bateu Com Um Sonho em uma faixa: Desconhecido)

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BOM PARA QUEM OUVE: Mahmed, The Cure, Real Estate
ARTISTA: Terno Rei

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique