Resenhas

Tinashe – Nightride

Cantora americana evita mesmice em seu segundo álbum

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Ano: 2016
Selo: RCA
# Faixas: 15
Estilos: R&B, Eletrônico, Trip Hop
Duração: 51:32
Nota: 3.5
Produção: Tinashe, The Dream, Metro, Boomin, Illangelo, Vinylz, Boi-1da, Wolf Cousins, Allen Ritter, Dpat, Stephen Spencer, King Kachingwe

Estilo estranho esse que chamam de R&B nesses dias. Está longe do que atendia pelo mesmo nome há algum tempo e nem me refiro ao ancestral do Rock lá dos anos 1950. O próprio conceito mudou demais com o passar dos anos e hoje temos uma sonoridade eminentemente eletrônica, com um pé no Hip Hop e outro no Pop comercial. Há alternativas aqui e ali e este segundo álbum de Tinashe se enquadra na vertente que procura pegar emprestado climas e nuances do Trip Hop, não menos eletrônico, não mesmo hip-hopesco. A diferença está no uso das batidas lentas, fluidas, que convidam para outro tipo de dança, se é que vocês me entendem. Neste ponto, Nightride, segundo álbum da moça, encontra sua razão de existir, ainda que careça de melodias um pouco melhores. Mesmo assim, vejamos como Tinashe dá conta deste recado.

Em primeiro lugar, a moça tem ótima voz. Seu timbre agudo casa perfeitamente com os invólucros sonoros que a acompanham pelo disco adentro. O time de produtores e colaboradores é grande, mas não acrescenta diversidade ao trabalho. Mesmo que isso não seja lá tão importante, depois de algum tempo, temos a impressão de que estamos ouvindo canções parecidas demais. Por outro lado, essa semelhança concede a ideia de que estamos numa espécie de sonho/pesadelo estranho e aveludado, meio pervertido, meio qualquer coisa, uma vez que as canções, via de regra, possuem algum elemento sensual. Podem ser as batidas cadenciadas, pode ser a voz da moça, pode ser o todo ou pode ser só o articulista viajando na maionese, vá saber. O que importa aqui é que há elementos que credenciam a audição do álbum além da tal experiência noturna de ir na balada e/ou dançar alguma canção na pista escura.

A exemplo das “slow jams” radiofônicas e setentistas, as canções de Tinashe não têm muita preocupação com o tempo e nem ela tem problema em gravar quinze faixas para seu álbum. Como dissemos, o tempo passa devagar e fluido através das canções. Há bons exemplos de como ela atualiza essas canções lentas enquanto acrescenta batidas e timbres inegavelmente atuais. Sunburn, terceira faixa do álbum, é uma belezura hipnótica, com vocais se dobrando em efeitos, brincando em looping, enquanto ela divide a voz em backings e principal, sobre uma profusão de batidas lentas e percussivas, devidamente acompanhadas por efeitos de cordas sintetizadas. C’est La Vie é outro bom exemplo dessa lógica, ainda que soe um pouco mais convencional que Sunburn, sendo compensada exclusivamente por uma performance vocal iluminada de Tinashe, que compensa aqui um instrumental mais convencional.

Sacrifices surge como a canção mais sombria do disco, ainda que tenha letra e entonação eminentemente Pop. O instrumental surge por dentro da noite, com dose de claustrofobia e abafamento, numa progressão onde só existem batida, teclado fazendo som de baixo e uma procissão de vocais que vêm e vão. Company já retoma o caminho mais “fácil” com teclados animados que servem de companhia para uma canção mais arejada e dançante. Depois de algumas canções sem muito brilho ou destaque, Tinashe retoma a boa forma nas duas faixas que encerram o álbum: Touch Pass é Pop e “difícil” ao mesmo tempo, novamente concedendo change para os vocais da moça brilharem sobre instrumental bem interessante. Ghetto Boy tem rotação lenta, calma, quase um fenômeno da natureza, sobrevoando uma paisagem de pianos e teclados celestiais, bem produzidos ao extremo, que conduzem a melodia imaculada da canção.

Este álbum, a exemplo de Aquarius, o trabalho anterior de Tinashe, mostra que a cantora americana é um nome em ascensão. Sua voz e bom gosto são evidentes. Ela ainda colabora na produção e na composição das canções e dos arranjos. Dá a impressão de que é uma questão de tempo até que tenhamos um novo – e mais interessante – nome deste Olimpo de cantoras Pop. Estamos esperando.

(Nightride em uma música: Ghetto Boy)

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BOM PARA QUEM OUVE: Sade, Rihanna, AlunaGeorge
ARTISTA: Tinashe
MARCADORES: Eletrônico, R&B, Trip Hop

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.