Resenhas

Psilosamples – Biohack Banana

Novo disco do músico brasileiro explora uma abordagem experimental e sensorial para a natureza

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Ano: 2016
Selo: UIVO Records
# Faixas: 8
Estilos: Experimental, Étnico, Psicodelia
Duração: 36:00
Nota: 4.0
Produção: Psilosamples

Zé Rolê, conhecido como Psilosamples, é o garimpeiro mais perfeccionista da música eletrônica nacional. Por meio de um trabalho intenso de experimentação e exploração sonora, o músico de Pouso Alegre coleta referências de todos os cantos e nos apresenta a cada lançamento algo completamente diferente dessas fontes de inspiração. Porém, mesmo com estas mudanças, o músico consegue deixar um resquício daquelas pedras em estado bruto, fazendo com que seus trabalhos sempre instaurem uma curiosidade em nossos ouvidos, tentando decifrá-los.

Em Biohack Banana, a musa de Zé é a natureza, mas, diferente de outros artistas que podem retratá-la de uma forma mais branda, suave e calma, ele opta por desvendar um lado extremamente místico e misterioso dela, mesmo que para isso ele abra mão de construções mais lineares. O caos aqui é amigo e traz uma jornada extremamente densa para nós, que deixamos Psilosamples guiar o caminho adentro desta selva lisérgica.

Começando com a faixa que dá nome ao disco, Biohack Banana aposta em um mantra-samba composto de cuícas, atabaques, pads e sequenciadores hipnóticos. Aliás, este último é um dos instrumentos favoritos de Zé ao longo do disco, fato que pode ser exemplificado na intensa Pineal Futebol Clube Fx, seja pelas drum machines ou pelos timbres plucked de sintetizador. Interessante como, às vezes, as narrativas colhidas ao longo desta jornada não se bastam em uma música só. Assim, Copo de Leite (Intro) e Copo de Leite Hortelã Pimenta, por exemplo, mostram diferentes lados de um mesmo cenário, sendo a primeira mais desconstruída e a segunda mais concreta.

Psykhé é outra obra dentro do disco, trazendo um exercício de montar, remontar e destruir músicas que ora parecem ser Jazz, ora bastante Techno, lembrando às vezes até trilhas de video games como Chrono Cross ou Final Fantasy. Elefante Branco volta ao mantra, perseguindo vagalumes mais Pop, que iluminam esta curiosa criação, ao mesmo tempo que podem nos fazer se perder nesta trilha (um fato louvável e extremamente difícil de se fazer em disco de música eletrônica). Por fim, Bicho de 7 Cabeças já diz o tom esperado, evidenciando um lado Flying Lotus bem marcante, ao mesmo tempo que um ar etéreo de florestas à noite, escuras e frias. É um disco extremamente sensorial, então é difícil não recorrer a metáforas para explicar nossos sentimentos durante a audição.

A natureza de Psilosamples justifica o nome curioso da obra. É como se Zé pegasse essa banana e fizesse uma espécie de alteração genética nela, ele a hackeasse. Uma espécie de híbrido natural-digital que nos traz uma experiência doida, mas ao mesmo tempo instigante em suas escolhas e ambientes criados. É um disco de música eletrônica completo: divertido e denso. Um smoothie de banana-eletrônica que te leva diretamente ao fim da toca do coelho.

(Biohack Banana em uma faixa: Copo de Leite Hortelã Pimenta)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique