Após o término da banda mineira Câmera, seria impossível pensar que seus membros ficariam distantes da música. Se André decidiu seguir o Folk em seu ótimo MOONS, Bruno Faleiro partiu em busca de sonoridades mais semelhantes ao seu antigo grupo, mas sob outra perspectiva. Se os anos 1990 são evidências compartilhadas entre “cria e criatura”, SCI FI mostra-se um ensaio muito mais cru e viajante, sem ser tão melódico e mais experimental.
Nos primeiros momentos, a voz cortante de Bruno causa estranhamento – parece um pouco fora de contexto em John Young Parkway até o seu término, quando o Noise toma conta e os ideais de Thurston Moore e companhia mostram a cara. Aliás, o grande valor dessa estreia consiste nas belas guitarras que acompanham o músico. Feitas na sua maioria por Bruno Faleiro e com algumas aparicões de seu ex-companheiro de banda, Matheus Fleming, propiciam uma ótima viagem introspectiva. A estrada da capa do trabalho não nega a sua vontade de servir-se ao movimento: Trailer Park Boys é imprescindível em uma road trip e serve de companhia em momentos escapistas.
A voz, que outrora parecia quase desistente, mostra-se o simples detalhe que traz sentido à estética proposta por Bruno – um discurso jogado e sem lírica aparece em May 26, lembrando muito a carreira solo de Lee Ranaldo. Ao mesmo tempo, o grande valor de Sci Fi reside em seu instrumental, todo produzido por Faleiro. Temos um pouco de Post-Rock em Man Ray e um pouco da psicodelia particular de Câmera em Avery Road.
White People’s Problems é a síntese do projeto; uma viagem sonora na qual a voz é um mero elemento dentro de um espectro estético bastante focado – ao final, o experimentalismo com um pouco de sintetizadores mostra que a vontade do produtor é partir para ficções em universos distintos. Se, em muitos casos, a definição de detalhes e a inspiração podem parecer datados ou muito perceptíveis, aqui parecem ser uma evolução e escolha natural a Bruno propiciando uma bela estreia solo.
