Resenhas

André Whoong – Justo Agora

Novo disco do cantor e compositor paulista ostenta Pop de qualidade

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Ano: 2016
Selo: Rosa Flamingo/Warner
# Faixas: 10
Estilos: Pop Alternativo, Technopop
Duração: 38:45
Nota: 4.0
Produção: André Whoong e Fabio Pinczowski

Quis a pós-modernidade que álbuns como Justo Agora, segundo da carreira do cantor, multinstrumentista e compositor André Whoong, fossem privilégio de uma audiência menor do que merecem. Já discutimos várias vezes por aqui sobre as questões envolvendo a facilidade/democratização dos lançamentos musicais nestes tempos, em contrapartida ao bloqueio imposto pela grande mídia, por isso, não iremos repetir o tema de forma aprofundada, mas é algo que sempre incomoda, pelo menos a mim. Sei bem que há públicos de vários tamanhos e níveis de informação a ponto de viabilizar este tipo de produção, porém, como disse, ainda me irrito por imaginar que artistas com menos apuro em vários campos sejam preferidos para atingirem âmbito nacional, fama, fortuna e tudo mais. Repito: é implicância pessoal do articulista e ele é o que menos importa aqui, especialmente quando concluímos que estamos diante de um belo álbum de Pop nacional.

André Whoong é esperto o bastante para oferecer um produto que transita com facilidade por referências clássicas dentro do estilo, mas que soa totalmente 2016, cravando seu nome ao lado de gente como Pélico e Silva nesta ponta de lança. Os arranjos são consistentes, têm pitadas de timbres eletrônicos e tecladeiros na medida certa, a voz de André é agradável e competente, além dele ter o elemento principal para se dar bem nessa praia: é bom compositor e tem achados poéticos/ganchudos em quantidade suficiente para grudar suas canções na mente dos ouvintes, um processo que tem eficácia comprovada desde que Mozart dava seus saraus na Áustria. E o repertório por aqui tem canções rapidinhas e dançantes, mas também se atreve a passear pelo terreno das baladas, a última instância para medição de talento no Pop.

O adorável verso “mais de 12 milhões de pessoas moram em São Paulo mas eu só consigo pensar em você” recebe o ouvinte na porta do álbum, a partir da encantadora 12 Milhões, que tem arranjo e programações que lembram algo que gente como Kiko Zambianchi teria gravado lá por 1987, quem sabe. Logo vemos que, além da letra de amor esperta, o aparato instrumental tem força suficiente para encantar. O clima alegre e pra cima puxa o ouvinte e quase o obriga a sorrir. Pop é isso. Tiê, parceira de André em algumas composições e produtora executiva do álbum, surge duetando com ele em outra belezura de canção, Me Queira Você, outro número iluminado, pra cima e cheio de tecladinhos saltitantes. Alguém tem instrumental retrô-moderno, usando baterias eletrônicas e uma ambiência tecnopop oitentista revisitada, que funciona muito bem com a letra.

O talento com baladas se materializa na pungente faixa-título, com pinta de balada clássica que um Guilherme Arantes não teria problemas em assinar embaixo. O veterano compositor, pianista e cantor paulistano também é inspiração da canção seguinte, a boa Alguma Vez, que é pontuada por piano solene, alternando timbre fantasioso de teclado. A encruzilhada The Beatles/Clube da Esquina surge como possível lastro em Sono de Você, com letra irônica sobre o relacionamento a dois. Aham é a canção mais “moderna” do álbum, com teclados arrojados, efeitos eletrônicos e um instrumental mais sintético, ainda que sua estrutura seja a mesma das outras composições, mantendo o bom nível. Uma progressão pianística solene introduz Se Existe, Venha Me Mostrar, canção com vocais próximos do surrealismo sentimental, que conduz o ouvinte para o fecho simpático e colorido de Por Favor, sentimental na medida certa.

Justo Agora se vale de tradições Pop atemporais para dar sua versão moderna do estilo, levando em conta o referencial brasileiro atual. É bem feito, bem gravado e vem se juntar à ótima safra de discos brasileiros deste 2016, um ano que não foi nada bom para quem pensa no mundo como um lugar melhor. Pelo menos, a música nos deu ânimo para seguir adiante e este álbum está neste bom lugar.

(Justo Agora em uma música: 12 Milhões)

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BOM PARA QUEM OUVE: Dingo Bells, SILVA, Pélico
ARTISTA: André Whoong

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.