Resenhas

Nine Inch Nails – Not the Actual Events

EP de inéditas honra legado da banda

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Ano: 2016
Selo: The Null Corporation
# Faixas: 5
Estilos: Rock Alternativo, Eletrônica, Rock Industrial
Duração: 21:23
Nota: 3.0
Produção: Trent Reznor e Atticus Ross

Nine Inch Nails é uma destas instituições sonoras que arrancam admiração até de quem não gosta ou conhece. Rock industrial naquela onda de gente sendo torturada nos fornos da usina siderúrgica de Volta Redonda, numa ação empreendida por seres abissais exilados do centro da Terra. Ou apenas reflexo da mente perturbada de Trent Reznor, uma espécie de príncipe das trevas e pajé sonoro esperto, que sacou a possibilidade de misturar batidas eletrônicas de alto teor explosivo com guitarras roqueiras derivadas do metal. Além disso, o homem foi malandro em captar a possibilidade de inserir vozerios indistintos, devidamente subvertidos por efeitos especiais, dando uma aura noturna, sinistra e niilista. Deu no que deu: sua banda tornou-se capaz de entrar na terceira década de atividade com este ar de novidade/relevância típico dos bons sons. Este Not The Actual Events é um EP, cumprindo a promessa que Trent fez de lançar material novo neste ano tão estranho.

Pra começar, 2016 tem cara de música do NIN. Parece uma procissão de violências contra o que mais amamos, mas, ao contrário deste ano infeliz, a música que Trent engendra tem um estranho grude Pop de fascinação pela violência, algo que vai na onda Clube da Luta de divertimento. A gente apanha mas não arreda pé. Durante as cinco canções, ele conta com colaborações interessantes: Atticus Ross, seu parceiro de trilhas sonoras recentes – e com quem divide um Oscar – foi devidamente efetivado como integrante do NIN e recebeu sua carteira de trabalho devidamente assinada, como manda o figurino. Além dele, Dave Navarro assina as guitarras da faixa 4, The Idea Of You e Dave Grohl se responsabiliza pela bateria na última canção do EP, Burning Bright (Field On Fire). Sem indicação de sua presença, suas participações não são perceptíveis, uma vez que a massaroca sonora engloba qualquer sutiliza, reprocessa tudo e despeja uma gororoba gorda e pesada bem no meio da ideia do ouvinte.

Dentre as composições presentes por aqui, a melhor é a segunda faixa, uma implosiva sessão de porradaria sônica chamada Dear World,, com título aludindo a uma carta de intenções nada amistosas para com um mundo de gente/circunstâncias que tiram a nossa paciência ao longo do tempo. Faz sentido e é bem humano desejar que tudo isso seja enfiado numa centrífuga sonora que é acionada e faz com que o resultado seja um sucão de restos e bagaços de tudo. Sim, é música pra ficar violento/a/x mesmo. A produção, a cargo de Atticus e Trent, contém o padrão habitual do NIN, ou seja, é claustrofóbica e opressora, valorizando este poder torturante que a música chama pra si. Ao mesmo tempo, tudo é nítido e bem gravado, num processo de lapidação que já fez Reznor ser chamado de Phil Spector do Rock Industrial, numa alusão ao mestre do Pop anglo-americano do início dos anos 1960, responsável pelo bom uso do estúdio como ferramenta sonora.

O EP chega como antecipação de um disco cheio para 2017 e também como introdução a uma série de relançamentos da obra da banda, com remixagens, faixas extras e nova arte visual para as versões em vinil, uma demanda para o mercado que cativa os colecionadores. É justo que Nine Inch Nails tenha seu valor cada vez mais reconhecido, ainda que sua música não seja para todas as horas. Pelo menos, esperamos que você não precise de suas canções como trilha sonora na maior parte de sua vida. Se precisar, entretanto, aqui é o seu mundo. O EP faz jus ao legado sujo e maníaco da banda.

(No The Actual Events em uma música: Dear World,)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.