Resenhas

HAB – Pessoas Não

Segundo disco de projeto traz uma perspectiva interessante sobre o transcedental

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Ano: 2017
Selo: Desmonta Discos
# Faixas: 8
Estilos: Post-Rock, Experimental, Instrumental
Duração: 27:00
Nota: 4.0
Produção: Quitanda Filmes

Para alcançar seu objetivo final, o conjunto guarulhense HAB fez um dos sacrifícios mais interessantes dos últimos anos na música brasileira. Com seu primeiro lançamento datado de três anos atrás, o projeto liderado por Guilherme Valério chamou atenção ao integrar o curioso e excêntrico catálogo do selo Desmonta, mostrando um som instrumental caprichado em referências Post-Rock e com toques experimentais que evitavam que seu som caísse em estereótipos nocivos.

Entretanto, uma necessidade transcendental parece ter despertado nos corações de seus integrantes no fim de 2015, início das gravações do novo disco. Assim, durante todo o ano de 2016, HAB passou por um intenso processo de investigação espiritual e mental para alcançar, segundo eles, “as forças vibratórias de outras dimensões”. Finalmente, no começo deste novo ano, o grupo revelou o resultado deste retiro metafísico espiritual em um disco que pode parecer difícil, mas que aos poucos se revela uma experiência sadia em busca de uma sensorialidade mais aguçada.

Pessoas Não é um registro que leva o elemento experimental do grupo ao extremo. Com intervenções Afropunk mais intensas, as oito faixas que compõem o trabalho buscam, pela exploração de timbres, muito mais do que serem composições interessantes. A principal razão pela qual estamos diante de tamanha maluquice e inventividade é a urgência de entender/experimentar uma dimensão menos óbvia da realidade: um alter-cosmo. Assim, HAB faz um sacrifício necessário, ao desistir daquela fórmula mais estruturada do Post-Rock e buscar sonoridades que evocam sensações menos óbvias em nós. Como se fossem verdadeiros mantras, mas, ao invés de persistirem na unidade da forma, a imprevisibilidade trabalha a favor de desrespeitarmos a física mundana e irmos além.

Luar Radiante é o início do salto cósmico para esta nova dimensão. Começamos imersos em um bar de baixa resolução de áudio com uma percussão porreta que serve de base para kalimbas e vocais ritualísticos. Diante desta hipnose, somos jogados para um terreno um pouco mais concreto em Jornada Inteira, o único resquício de estruturas um pouco mais conhecidas do disco, mas que não deve ser confundida com um demérito do trabalho. Zinca nos guia por contratempos deliciosos que não nos deixa encontrar um ponto de referência fixo para recuperarmos nossa consciência: é o disco tentando nos tirar de nossos eixos. Kalimba #1 retoma o mantra e entoa reverbs etéreos, ao mesmo tempo que nos bombardeando com o peso de riffs bem colocados. Por fim, a faixa que dá título ao disco encerra essa viagem com sintetizadores oscilantes que chegam a tocar a psicodelia mais a fundo, não que todo a obra já não o vinha fazendo.

Pessoas Não é uma experiência transcendental que revela a liberdade de HAB com suas composições, distorcendo, invertendo e transformando-as como bem entender. É um passo bastante aprofundado e maduro em relação ao seu primeiro disco, apontando caminhos imprevisíveis para seu futuro e nos mantendo bastante curiosos para outras experiências sensoriais que o grupo possa nos provir. Mais um capítulo muito bem escrito na bíblia experimental brasileira.

(Pessoas Não em uma faixa: Kalimba #1)

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BOM PARA QUEM OUVE: Metá Metá, Mahmed, Hurtmold
ARTISTA: HAB

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique