Resenhas

Cloud Nothings – Life Without Sound

Banda retorna com uma versão espiritual do Punk

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Ano: 2017
Selo: Carpark
# Faixas: 9
Estilos: Emo, Punk, Garage Rock
Duração: 37:42
Nota: 4.0
Produção: John Goodmanson

Embora seja difícil elencar qualitativamente todos os álbuns da carreira de Cloud Nothings, não resta dúvida de que Attack on Memory, de 2012, seja um dos exemplares mais proeminentes dessa lista. Naquele disco, a música de Dylan Baldi – sempre apontada para um estilo resultante da ramificação entre o Punk e o Emo -, expandiu seu potencial muscular graças a intervenção do produtor Steve Albini, atento para as nuances idiossincráticas que a música do grupo continha.

O piano que abre Up To The Surface, a faixa introdutória de Life Without Sound, pode ser interpretada como uma tentativa de retomar a o potencial daquele que foi o ápice da carreira de Cloud Nothings (uma vez que No Future/No Past também se inicia com o instrumento), reerguendo a banda a um novo ponto alto. No entanto, pode ser também encarada como um momento de desacelerar a energia garageira que comburiu o grupo até aqui. Agora, assim como Japandroids em Near To The Wild Heart Of Life, a banda tem um passado, e precisa olhar para ele na tentativa de descobrir quem já foi, e, portanto, quem precisa ser.

Things Are Right With You é uma faixa que contém um aspecto otimista, raramente visto na obra de Baldi. É essa música que contém, também, o verso que dá nome ao álbum, remetendo a um crise de inspiração que obrigou o artista a recompor o seu método criativo. Após tal bloqueio, Baldi se viu obrigado a abrir os olhos para a realidade a sua volta e encarar o mundo para além de suas fórmulas prontas. É a isso, provavelmente, que o artista se refere ao dizer: “it’s time for coming out, no use in life without sound, patiently waiting alone and now, follow the line to sort it out”. Este é o espírito que ronda o álbum como um todo.

“Essa é a minha versão de uma música New Age”, disse Baldi em uma declaração que seguiu o lançamento do trabalho. A década de 90, fonte de inspiração que abarca os estilos musicais que fizeram Cloud Nothings ser quem é, não por acaso, assistiu à eclosão de um dos fenômenos mais improváveis da música: o Krishnacore, que, através de uma sonoridade raivosa, pregava um estilo de vida espiritual. De fato, Life Without Sound é mais uma prova de que meditação, ao invés de silêncio e imobilidade, pode muito bem significar o contrário, ou seja, a transformação da energia criativa aprisionada dentro de nós em movimento e som.

(Life Without Sound em uma música: Things Are Right With You)

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BOM PARA QUEM OUVE: Big Ups, Skaters, Japandroids
MARCADORES: Emo, Garage Rock, Punk

Autor:

é músico e escreve sobre arte