Resenhas

Felipe S. – Cabeça de Felipe

Disco solo de vocalista de Mombojó é um complexo ordenado de referências e texturas

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Ano: 2017
Selo: Joia Moderna
# Faixas: 10
Estilos: MPB,
Duração: 36:00
Nota: 4.0
Produção: Felipe S.

Felipe S optou pela simplicidade ao nomear seu primeiro trabalho solo e, ao fazer isso, nos direcionou para uma análise direta e, ironicamente, complexa da obra. Produzido pelo músico em sua casa, Cabeça de Felipe é um grande mergulho por referências e microcosmos pessoais que vão muito além das sonoridades brasileiras que Mombojó produz, ainda que elas estejam presentes em boa parte das faixas. Entretanto, o que torna o disco extremamente interessante é a forma como essas mil referências de juntam: caoticamente ordenadas.

As faixas não são simples combinações de dois gêneros que Felipe gosta, mas verdadeiros organismos vivos em que cada órgão é composto por um elemento vindo de um gênero distinto. O disco não traz uma mistura de gêneros, ele traz uma mistura de misturas. Portanto, cada faixa traz uma pluralidade, o que torna o trabalho difícil de ser categorizado mas, certamente, delicioso de ser saboreado e explorado.

Cabela de Felipe abre com Anedota Yanomami, uma faixa que confronta realidades distintas ao misturar a força da percussão com a aura envolvente e hipnótica da Psicodelia. Já Santo Forte traz uma estrutura forte de um samba Novos Baianos, mas o faz com melodias relativamente tensas e percussões que trazem sons menos naturais e com leves distorções. Da Capoeira Pro Samba é quase uma viagem no tempo que cria pontes fortes entre vocais de baladas adolescente dos anos 1960 com um pouco de um som Hi-Fi que o duo francês Air faz.

Nova Bandeira arrisca timbres de sintetizador futuristas que lembram o último disco de Mombojó, ao mesmo tempo que pratica ritmos mais brasileiros com percussões eletrônicas. Trovador, por sua vez, é uma belíssima balada Rock que traz inserções de trechos de orquestra clássica e vocais hipnóticos, sendo umas das faixas mais difíceis de nomear. Sabe Quando não nega as influências Dub, mas seu arranjo é construído de tal forma que lembra uma aura Funk suave, principalmente com o abuso saudável do wah-wah e os timbres de teclados com filtros 8-bit. Por fim, Tigre Palhaço é quase um canto índio, que mantém firme a pulsação mas brinca com camadas de sintetizadores, reverbs e vocais graves, lembrando um ritual.

Felipe S. mostra como as coisas são pouco segmentadas em sua cabeça, revelando um grande e contínuo fluxo de referências cuja segmentação é inútil, nos restando apenas vislumbrar as diferentes cores e texturas que formam este rio da cabeça de Felipe. Um disco complexo e fantástico no qual cada elemento tem sua função e ordem, mas cuja categorização é totalmente dispensável para a apreciação do trabalho.

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BOM PARA QUEM OUVE: China, Cérebro Eletrônico, Air

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique